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Criado a 2 de junho 1888, o “Jornal de Notícias” fez permanecer neste tempo a sua redação central no Porto. Hoje, é o único diário nacional com a sede fora da capital, distinguindo-se por uma atenção particular aos territórios. E é nesse jornalismo de proximidade, entranhado na vida das pessoas, que se enraíza a sua força. E a sua liberdade.
Tendo atravessado recentemente uma fase de grande turbulência devido a problemas de propriedade e, consequentemente, de gestão, entretanto superados, mas que abalaram profundamente os seus recursos humanos, o JN procura agora reconquistar uma estabilidade que lhe permita consolidar uma marca centenária. Não é um empreendimento simples, dados os atuais constrangimentos.
Comecemos pela redução de leitores. Com acesso facilitado à informação, os cidadãos deixaram de comprar jornais, independentemente dos títulos. Poder-se-ia dizer que a crise afeta sobretudo versões impressas. No entanto, os formatos digitais não têm tido um crescimento expressivo. Por outro lado, as redes sociais proliferam em grande força e, com elas, ganha espaço todo o género de desordens informativas, com efeitos nefastos para a qualidade do espaço público. Num contexto de perda progressiva de valor do jornalismo, o país apresenta-se cada vez mais centralizado ao nível das elites do poder. Hoje, é difícil encontrar lideranças reconhecidas como tal fora de Lisboa. As existentes fortificam-se através de poderosas estruturas de comunicação estratégica que disputam a agenda noticiosa, desequilibrando a relação jornalista/fonte de informação.
Há, no entanto, projetos jornalísticos que resistem. São poucos, mas correspondem a influentes marcas de um jornalismo independente e de qualidade. O JN é um desses casos. No seu alinhamento, integra-se um noticiário nacional e internacional que agarra o essencial que importa reter, alargando-se igualmente a partes do território que, sem esse agendamento, permaneceriam sem qualquer visibilidade pública. O país que nos estrutura enquanto identidade tem agora mais relevância na versão impressa ao ganhar precedência quanto à parte nacional. Esta opção editorial é muito significativa num projeto que adquire grande parte da singularidade pela atenção àquilo que se passa fora de Lisboa, não deixando, no entanto, de valorizar o que de relevante acontece na capital.
Numa semana em que o JN completa 136 anos, é justo desejar-lhe longa vida. Em papel ou no digital, o jornalismo, construído em liberdade, será sempre imprescindível a uma democracia saudável e a uma cidadania de alta intensidade. Por isso, um jornal assim tem um lugar insubstituível.