Num estudo do Reuters Institute referente a 2022 que envolve 45 países, o "Jornal de Notícias" é o diário que, em Portugal, reúne mais confiança, ocupando o terceiro lugar de uma lista liderada pela RTP. A longevidade do projeto editorial, a proximidade do jornalismo que se desenvolve e, claro, a qualidade do trabalho são elementos fundamentais para as preferências manifestadas neste relatório que apresenta também preocupações relevantes.
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Percorrendo o que pensam os cidadãos sobre os média dos respetivos países, nota-se que a natureza das empresas nada influencia os veredictos. Se em certos países os serviços públicos de média recolhem a opinião mais favorável (os casos de Portugal e do Reino Unido), noutros são os canais privados de TV (por exemplo, Espanha e Brasil) e noutros ainda os projetos regionais (como França, Grécia ou EUA).
A confiança nos média noticiosos não é tarefa simples. Em Portugal, os valores são bastantes satisfatórios (o JN reúne uma percentagem de 76 por cento, dois pontos abaixo da RTP). O valor mais alto pertence ao operador público na Finlândia, que continua a ser o país com os níveis mais altos de confiança geral (84 por cento). Em contrapartida, a confiança nas notícias nos EUA caiu três pontos percentuais e continua sendo das mais baixas neste estudo (54 por cento para os canais regionais de TV, que lideram a confiança).
Depois de um período pandémico de forte consumo de notícias, regista-se um decréscimo desse interesse, bem como uma redução de confiança no jornalismo. E se há uma proporção expressiva da população apreensiva face ao aumento de notícias falsas, muitos daqueles que procuram informação fazem-no através das redes sociais, sobretudo do Facebook. Paradoxos.
Embora em países ricos, como a Austrália, Alemanha ou Suécia, haja um crescimento daqueles que se dispõem a pagar pela informação que consomem, esse valor é residual em vários países (Portugal incluído). Se, a esse nível, isolarmos os jovens, o retrato é mais desolador. Num contexto em que a inflação vai galopando em várias geografias, teme-se que esta curva não reverta a curto prazo.
Quanto aos meios através dos quais acedemos pela manhã às notícias, este estudo revela que o telemóvel é a forma dominante, embora encontremos padrões diferentes nos países analisados. Na Noruega, Espanha, Finlândia e Reino Unido, o telemóvel está à frente da televisão, enquanto a rádio mantém um papel importante na Irlanda e os jornais revelam um consumo matinal alto nos Países Baixos. Uma coisa é certa os média noticiosos continuam a ser essenciais para a vitalidade das democracias. E isso deve fazer deles uma prioridade na vida de todos nós.
Professora associada com agregação da UMinho