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Joana Marques foi ilibada no processo movido por Anjos sem asas e sem cabeça. Não podia ser de outra forma, aliás o simples facto de a ação ter ido a tribunal já foi um tanto ou quanto ridículo, mas adiante. A juíza falou e a Joana festejou, o que se compreende. Se alguém me exigisse um milhão de euros, mesmo que fosse uma acusação sem pés ou cabeça, eu também convidaria amigos para jantar e beberia uns copos. Só que a Joana fez mais. Poucas horas a seguir à leitura da sentença anunciou um espetáculo sobre o processo, com nome e tudo: "Em Sede Própria". As palavras que escolhi não são precisas, onde se lê "espetáculo" deveria ler-se quatro grandes espetáculos, no Coliseu dos Recreios e na Super Bock Arena. Anunciou-os e logo foram colocados à venda bilhetes que esgotaram em menos de uma hora. Há nisto qualquer coisa de incomodativo, porventura um vírus de amoralidade ou talvez de oportunismo que é tudo menos bonito. Tenho pena quando pessoas talentosas e com enorme poder não constroem um edifício ético e moral à prova de bala. Não discuto a ideia, excelente e certeira. Discuto, sim, a utilização de um julgamento para fazer dinheiro à custa dos que perderam. Discuto o desrespeito pela Justiça, é que o happening já estava montado e os bilhetes a postos antes do veredito, só faltava a decisão da juíza que, inadvertidamente, se tornou cúmplice de uma operação comercial. Não gosto de quem humilha quem já está humilhado. Mesmo que me faça rir.