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Havia sinais, mas quase ninguém acreditava neles. Eu próprio coloquei todos os adversativos, afinal aquela terra era inamovível, uma rocha fiel, a mais amada pérola do professor de Boliqueime. Viseu era laranja e sempre seria laranja. Mais depressa Cristo desceria outra vez a Jerusalém do que alguém conseguiria pôr um cachecol socialista na cabeça de Viriato. Só que, em dezembro de 1974, nasceu numa família de classe média, um bebé gordo que se transformou numa criança hiperativa e num adulto que nunca pareceu bom da tola. Alcançou jovem a presidência da Câmara de Mangualde, mas avisava entre os seus que o destino passava pela conquista de Viseu, a mais escarpada e bela das montanhas. Muito gozado foi o jovem João - mais valeria dedicar-se à pesca ou ao seu Sporting. E mais simples seria se ambicionasse ser primeiro-ministro, agora presidente da Câmara de Viseu? Falei com ele há uns anos, uns dias depois de se ter safo de uma "macacoa" no coração. Quando lhe deram alta no Hospital de Viseu, médicos, enfermeiros e auxiliares foram aplaudi-lo à porta, o homem entrara a morrer e saíra com 80 por cento de intenções de voto. Muitos comentadores perguntaram quem era João Azevedo, como fora possível ganhar e com tanta distância? João é o que nasceu no primeiro Natal em liberdade e o que cresceu com um sonho em que ninguém acreditava. O que foi de terra em terra, de aldeia em aldeia, de casa em casa, de rua em rua, de pessoa em pessoa a contar-lhes de si e a abraçar cada um como se fosse família.