Parece impossível ter feito ontem 70 anos. Falar com ele, estar com ele, vê-lo sempre de olhos despertos a pensar no próximo projeto, na próxima canção, no próximo espetáculo, no livro que não leu, na pessoa que ainda não conheceu, no prato que ainda não sabe cozinhar, na viagem que ainda não fez com a mulher da sua vida, a Ana Mesquita, por quem se apaixonou quando a ouviu num programa de rádio. Escrevo sobre João Gil que nasceu há 70 anos, na Covilhã, num dia de tempestade que parecia poder rebentar com as montanhas e fazer tombar as pedras das casas. João que foi um dos fundadores dos Trovante, que depois inventou a Ala dos Namorados, desencaminhou amigos para fazer os Rio Grande, mais tudo o resto. O compositor que num toque de mágica desenhou na pauta o "Perdidamente" ou os "Loucos de Lisboa" ou o "Postal dos Correios" ou o "125 azul". Tantos de nós apaixonaram-se a ouvir as melodias que tinha na cabeça, as baladas de sete saias ou a constatação de que há sempre alguém que nos diz para ter cuidado. Tantos de nós gritámos pela independência de Timor a ouvir a canção que ele imortalizou porque se outros se calavam, cantávamos nós. João Gil é uma pessoa maravilhosa, um dos nossos grandes. Um menino que envelheceu sem nunca deixar de ser criança, sem nunca perder a vontade de viver sem o peso de maus pensamentos, de ressentimentos com quem nunca se amancebou. É um orgulho ser seu amigo. O meu amigo mais jovem. O meu amigo luminoso que tem um pacto com a vida, um pacto que durará até ao fim dos tempos.
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