No mesmo dia, na mesma cerimónia, o primeiro-ministro anunciou o lançamento do concurso para o avanço das obras na ala pediátrica do Hospital de São João e, pouco tempo depois, à margem, a nova ministra da Saúde explicou que não é bem assim, que não há data para o concurso.
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Ponto prévio: a primeira pedra foi lançada pelo Executivo anterior em março de 2015. Para já, este Governo apenas autorizou o Hospital de São João a lançar um concurso para o projeto do edifício. Acontece que o Hospital de São João já tem um projeto para a ala pediátrica, que custou 700 mil euros. Lançar um novo concurso para um novo projeto atrasaria tudo por mais de um ano. E, só depois desse tempo, seria possível tentar lançar o concurso para a obra.
Marta Temido não se quis comprometer, comprometendo António Costa. A nova ministra da Saúde, à época em que foi presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, manifestou diversas vezes a sua concordância com a concretização deste projeto.
Ao Governo, em toda a sua ação, exige-se bom senso, transparência e seriedade. Aqui assistimos ao ridículo: o líder do Governo anunciou uma mão cheia de ilusões. E este assunto, em particular, é demasiado sério para parecer uma anedota.
Os pais e os familiares das crianças e diversas associações ligadas à causa já levaram a cabo cordões humanos e muitas outras ações, exigindo ao Governo que resolva a situação lastimável em que se encontra o "Joãozinho". Olhar para as imagens das instalações é revoltante, há crianças em risco de vida a serem tratadas em contentores.
Esta triste cena do Governo revela um erro crasso de foco. O primeiro-ministro quer continuar a fazer manobras políticas, a ser o portador das boas-novas. Tentou calar os adultos, fez política e falou o que os pais e o país queriam ouvir. Esqueceu-se do essencial: as crianças, que merecem condições dignas para continuarem as suas lutas diárias.
O quadro que retrata a triste realidade é este: em 2019 vamos continuar a ter crianças a serem tratadas em contentores. O avanço das obras da ala pediátrica do Hospital de São João é um assunto esquecido na gaveta do Governo, que não tem inscrito um cêntimo que seja no Orçamento do Estado para o próximo ano, por muito que anuncie remendos e exceções. Não é admissível que isto aconteça num país civilizado, que pertence à União Europeia.
*EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO