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Nestes dias em que apenas se vê e ouve falar de Trump, faz falta recordar Biden. Ele foi aquilo que Donald Trump, infelizmente para nós, nunca será. Biden foi um grande presidente dos EUA. Propôs-se, no início do seu mandato, fazer sair a América do caos negacionista da covid e das alterações climáticas e inverter o caminho de desregulação económica, e cumpriu. Restabeleceu a normalidade do funcionamento do Estado de direito democrático. Defendeu a economia com investimento público, com uma política industrial e de apoio a setores emergentes, com incentivos ao desenvolvimento científico, com valorização dos sindicatos e dos direitos dos trabalhadores, afirmando um compromisso com a justiça social e a equidade.
A liderança de Biden foi marcada por uma abordagem pragmática e humanista. Reconheceu a gravidade da pandemia de covid-19 e lançou programas eficazes para controlar a sua propagação, de organização da vacinação em massa e de apoio à investigação científica. Voltou ao Acordo de Paris e promoveu políticas ambientais sustentáveis e iniciativas concretas para combater as alterações climáticas.
Há quem, e com razão, critique a sua ação externa, sobretudo pelo apoio dado ao Governo de Israel na guerra em Gaza, que posteriormente se alargaria a boa parte do Médio Oriente. No entanto, é inegável a importância do apoio dado à Ucrânia e o retorno ao multilateralismo nas relações que manteve com a Europa. A presença e participação em organismos internacionais, como a OMS, e nos acordos globais, como o de Paris, foram decisivos para manter a agenda da defesa do ambiente e de combate às alterações climáticas.
Há quem o critique pelo uso do poder de perdão presidencial para proteger os membros da sua família. Não foi a melhor forma de Biden terminar o seu mandato. Mas convém recordar que Biden protegeu também políticos e dirigentes da administração federal, fossem republicanos ou democratas, que estavam sob a ameaça de Trump. E mesmo o perdão do filho, sendo errada, é compreensível e humana, como escrevia o “The Economist”.
Apesar deste ato final, é preciso continuar a lembrar Biden, para que o seu mandato não seja o último suspiro de um período de desenvolvimento com democracia e humanismo. A sua liderança é uma prova de que é possível governar com respeito pelas instituições democráticas e com um compromisso genuíno com o bem-estar da população. Manter viva a memória do seu legado é também uma forma de manter a esperança de que aquilo que Trump simboliza não perdurará por décadas.