Um jogador de futebol é um trabalhador e importa recordar que, mesmo na primeira divisão, não ganham todos ordenados milionários.
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E, já agora, mesmo os que ganham ordenados muito acima da média dos restantes trabalhadores, não podem ser responsabilizados por cumprirem as suas obrigações profissionais.
Estão a mandar os jogadores para dentro do campo num dia de chuva e avisá-los que se acabarem o jogo molhados, a culpa é deles. É isto que estão a fazer quando lhes pedem para se comprometerem com um documento que começa com esta pérola: "[...] e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infeção [...], bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública". Muito bem, Danilo Pereira, ao assinalar esta brincadeira. Estarão muito bem, todos os jogadores que recusarem comprometer-se com este documento.
Não me parece defensável a tese de que a única coisa certa a fazer seria terminar com as competições, para salvaguardar a saúde dos jogadores. É claro que a salvaguarda da sua saúde deve ser prioritária, mas é também absolutamente necessário garantir a sobrevivência financeira dos clubes para que continuem a existir os seus empregos. Em muitas outras profissões existem riscos que são assumidos, do ponto de vista da saúde, por cada um dos profissionais e, do ponto de vista dos direitos laborais, pelo Estado e pela entidade empregadora. Querer exigir aos jogadores que assumam responsabilidades que não são suas, não fica muito bem à entidade patronal e é absolutamente inadmissível patrocinado pelo Estado.
Embora não se deva descartar essa hipótese, insisto que não estou a defender que se deveria desistir de jogar o resto do campeonato. Tenho defendido insistentemente a reabertura da economia em todos os setores, de forma gradual mas consistente. Parece-me é que, sendo os jogadores de futebol as pessoas que vão correr os maiores riscos, o negócio só deve ser retomado se os seus direitos estiverem salvaguardados. Se, para efeitos da competição, um jogador infetado é igual a um jogador lesionado, então é evidente que, para efeitos da relação laboral, o resultado tem de ser exatamente igual.
Não sei muito bem qual é a intenção da FPF, da DGS e do Governo para começarem com este ponto o Código de Conduta, mas o resultado nunca será coisa boa. Os trabalhadores não podem aceitar este ponto. Se o sindicato não percebe isto, nunca será capaz de defender o interesse dos jogadores.
*Jornalista