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Nem de propósito, no dia em que aqui se falava de certa advocacia que se especializou, trabalhando para "notáveis" e/ou gente de dinheiro, em levar processos à prescrição, usando a vasta panóplia de expedientes dilatórios que o Processo Penal, sobretudo após a reforma de 2007, faculta, um dos advogados de Isaltino Morais manifestava-se "surpreendido com a rapidez" com que o Tribunal Constitucional acabara de chumbar mais um recurso (só para o TC já vão dois, a acrescer aos para a Relação e para o STJ) da condenação do autarca e ex-ministro por crimes de branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Ninguém lhe perguntou se estaria "agradavelmente" ou "desagradavelmente" surpreendido. Pois seria suposto que, num sistema judicial de pesadelo, em que os processos se arrastam anos (e, às vezes, décadas) nos tribunais, a "rapidez" fosse uma boa notícia. Mas, aparentemente, não foi e, no contexto das afirmações do advogado, a constatação de que "nem passou uma semana" sobre a entrega das alegações, tem o tom inequívoco de lamento. O que se percebe, pois já só faltam uns meses para a prescrição e a estratégia da defesa arrisca-se, com tanta "rapidez", a morrer na praia.
Mas haja fé: como Isaltino lembrou, ainda há mais recursos e recursos de decisões de recursos pendentes. E ainda se poderá, no último dia do prazo (ganhar-se-ão assim mais 10 dias), pedir ao TC que "aclare" a decisão. E o tempo não pára.