Jogos Olímpicos: os desafios para além do desporto
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Inauguram-se hoje, numa cerimónia nas margens do rio Sena que se quer inédita, os Jogos Olímpicos de Paris 2024. O Eliseu não se cansa de anunciar “um acontecimento revolucionário que mostrará ao Mundo aquilo que a França é capaz de fazer”. Todavia, este grande evento desportivo, de escala planetária, enche-se de desafios de outra natureza. Alguns bastante temidos.
A revista “Newsweek” coloca em capa aquilo que é o maior receio dos organizadores destes JO: a segurança. Num extenso texto, assegura-se que os serviços de segurança franceses criaram uma colossal operação para evitar incidentes de todo o tipo, acrescentando-se um dado bastante revelador: também os serviços de segurança norte-americanos “passaram os últimos anos a preparar-se para proteger os atletas americanos que competem em Paris”. Uma das delegações que suscitará maiores cuidados é a de Israel, que será colocada permanentemente sob alta proteção. Para além do acompanhamento de forças de segurança francesas, os desportistas andarão sob vigilância de vários membros dos serviços secretos de Telavive, que procurarão passar despercebidos, ainda que os média internacionais lhes deem amplo destaque. O conselho para todos é o de permaneceram mais silenciosos do que nunca. Sente-se bem a pressão política.
Outro dos desafios destes JO é o da popularidade, sobretudo o da aceitação dos parisienses que, por estes dias, veem o seu quotidiano interrompido por tantas exceções. De acordo com um inquérito do Instituto de Estudos de Opinião e Marketing francês Ifop de 17 de julho, 36% dos franceses escolhem a palavra indiferença para reagir a estes JO; 24%, inquietude; 5%, cólera; e somente 23% falam deste acontecimento recorrendo à palavra satisfação.
Claro que, perante todas as contradições, poderemos invocar o espírito olímpico desta competição, assente teoricamente numa natureza apolítica que procura o equilíbrio das qualidades do corpo e do espírito, o respeito pelos direitos humanos e pelos princípios éticos universais.
No entanto, convém não esquecer que este é um evento pesado do ponto de vista do investimento financeiro e isso muda as regras do jogo.
Como escrevia ontem a revista “L’Obs”, falamos, acima de tudo, de “um produto que se vende às marcas, às cidades organizadoras e a cada um de nós que passamos horas em frente a vários ecrãs de transmissão”. Em rigor, mais do que um evento desportivo, os Jogos Olímpicos há muito que se converteram num grande evento mediático. Com um enorme impacto económico e com repercussões políticas diversas.