O envolvimento da Seleção Nacional no primeiro jogo do Campeonato do Mundo foi caracterizado por um termo desculpabilizador: "forçado". De facto, a adjetivação quase generalizada das incidências de que resultou a penosa goleada sofrida frente à Alemanha está entre o tonto e o vesgo. Muito por obra e graça da influência de uma mão-cheia de opinadores dóceis - há quem os entenda subservientes -, uma parte do país resolveu ver-se ao espelho nas explicações absurdas dadas para a pobreza franciscana de uma exibição. Claro: a mais fácil de todas, porque parece estar no ADN das hostes futebolísticas nacionais, é a do árbitro.
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João Pereira fez penálti? Foi forçado, clamaram os comentadores do regime, logo seguidos pelo povo triste mas brando nas críticas, preferindo encontrar mais uma teoria da conspiração numa falta indiscutível não assinalada sobre Éder no interior da grande área germânica. Justificou-se o cartão vermelho a Pepe? Foi forçado, ditaram os do costume. Tudo é forçado, se quisermos. É forçado não admitir a vulgaridade dos componentes da Seleção, excetuando obviamente Cristiano Ronaldo.
Forçado é também passar ao lado das más decisões tomadas por Paulo Bento na hora de tentar reverter o que estava na cara: a falta de dimensão, atlética, física e psicológica de um grupo de jogadores atarantados. Algum jogador português se notabilizou por entre a mediocridade demonstrada frente à Alemanha? Nem um! De Rui Patrício a Bruno Alves, de João Moutinho a Raul Meireles, de Nani a João Pereira, houve uma linha condutora comum: desinspiração, se quisermos ser benévolos, falta de classe, numa visão mais certeira.
Perante o impacto do desastre - o azar é o denominador comum dos argumentos falaciosos -, forçado é sobretudo tentar encontrar explicações exteriores ao grupo de trabalho nacional. O árbitro, a hora do jogo, o clima, enfim. Negro, urge mudar o quadro pintado pela Seleção - tanto mais quanto os adeptos não anestesiados pelas desculpas estúpidas merecem melhor. Acreditam mesmo. Para lá dos milagres....Hoje, há o Portugal-Estados Unidos. Não é o jogo do tudo, mas é desejável não ser transformado no...nada!
O povo merece ter uma alegria e à Seleção exige-se uma mudança de comportamento. Se durante toda a semana não houve a humildade de reconhecer os erros e permaneceu a soberba, numa espécie de festim incompreensível, fica a expectativa de que a reconciliação com o povo esteja reservada para logo à noite.
O Mundial não acabou para Portugal só porque houve incompetência frente à Alemanha. A indisciplina e as lesões tornam a Seleção ainda mais débil, mas há uma fórmula capaz de resolver parte do problema: joguem à bola!