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Portugal recebe a partir de hoje a Jornada Mundial da Juventude. A esperança que este tipo de evento carrega pode ser importante para muitos dos nossos jovens, católicos ou não. Centrar um evento nesta faixa etária significa dar ao assunto um peso que nem sempre é visível nas políticas públicas em Portugal. O que preocupa mais quem ainda tem uma vida de trabalho pela frente? Em Portugal, 95% dos jovens entre os 15 e os 24 anos ainda viviam com os pais no ano passado. É o quarto valor mais elevado na União Europeia, de acordo com dados da Pordata. A Jornada pode ser um bálsamo para alguns, mas está longe de ser uma panaceia para a miríade de problemas e desafios que muitos dos participantes enfrentam no seu dia a dia.
Em encontros mais ou menos formais, é muito possível que o Papa Francisco relembre a carestia de vida que os mais novos vivenciam, tanto em Portugal como noutros países. Seis em cada dez jovens empregados têm vínculos de trabalho precário e cerca de metade diz estar nessa situação por não conseguir encontrar trabalho permanente. Há vontade de trabalhar por parte da geração mais qualificada de sempre. A qualidade da oferta de empregos é que não acompanha essa evolução. “Não ao abuso do trabalho precário, que tem um impacto sobre as escolhas de vida dos jovens e, muitas vezes, obriga a trabalhar mesmo quando faltam as forças”, disse o Papa, em abril.
Este “precariado”, parafraseando o título de um livro de Guy Standing, está longe de atingir o estatuto de grisalho, mas rapidamente ganhará cabelos brancos devido ao sofrimento da sua condição. Para evitar o pior, aquele autor defende uma “política de paraíso”, na qual a redistribuição e a garantia de rendimento dão origem a um novo tipo de Boa Sociedade, em que a atenção aos medos e às aspirações do precariado tornam-se centrais para uma estratégia progressista. Sonhemos, pelo menos durante a Jornada Mundial da Juventude.