Jornalismo também precisa de energia
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Quando a energia elétrica se apaga, o jornalismo conquista vitalidade, assumindo-se como meio de orientação, de esclarecimento e de ligação entre os cidadãos. Na segunda-feira, quando as fontes oficiais tardavam em comunicar, os jornalistas procuraram alternativas para informar. Em dias de crise, alguém duvida de que as notícias são um bem público?Esta semana, uma jornalista dizia-me que a sua redação deveria contar de que modo trabalharam quando o país ficou desligado. Sem energia e sem ligações telefónicas, os média debateram-se com outro problema: o silêncio dos responsáveis políticos e das entidades públicas a quem competia gerir esta crise. Durante várias horas, para além de não se saber o que aconteceu, desconhecia-se o que sucederia a seguir. Aí está o contexto ideal para que as desordens informativas se multipliquem. Foi isso que aconteceu. E a sua intensidade foi de tal ordem, que contaminou o espaço jornalístico que, sem estar ancorado por fontes competentes, se viu circunscrito a uma esfera de ação relativamente reduzida. Mesmo assim, o discurso noticioso, sobretudo da rádio, mostrou-se capaz de disseminar informação relevante.
Quando a energia foi reposta, ouvia responsáveis políticos falarem da sua preocupação em dotarem hospitais, escolas e outras instituições sensíveis de meios para continuarem a funcionar. Nenhum evidenciou qualquer preocupação com os média de natureza jornalística. Pelo contrário. Deles escutei inconsistentes explicações relativas à sua indisponibilidade para prestarem informações aos jornalistas. Não faz sentido.
Do jornalismo, espera-se informação fiável e verificada, capaz de combater rumores e desinformação. Ao manter a população informada sobre as causas do apagão, os serviços afetados e fornecendo instruções de segurança, os média podem ajudar a manter a calma social e a evitar o pânico generalizado. A esse nível, as fontes oficiais são estruturantes para a construção desse jornalismo. Sem elas, falha muita coisa. Por isso, quando ouvimos o primeiro-ministro dizer que, em dia de apagão, a desinformação proliferou, parte dessa responsabilidade está também no seu governo e nas entidades que tutela. Que não comunicaram no tempo certo e na forma adequada.
Importa, por isso, repensar o lugar que se atribui ao jornalismo nas prioridades de um país em crise. Porque, quando tudo falha, é nas palavras que se procura uma bússola para seguir caminhos. Ignorar isso é um erro estratégico e um risco colossal para a coesão e equilíbrios sociais.
Se o jornalismo é convocado para resistir nos momentos mais sensíveis, que seja igualmente apoiado. Porque em tempos de apagão, nada ilumina mais do que uma informação rigorosa e célere.