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O flagelo do desemprego trespassa todas as faixas etárias da sociedade portuguesa. Agora nos 15% - atingindo 813 mil cidadãos, fora os que não fazem parte da estatística - o crescimento da taxa dos sem trabalho deve, por isso, constituir uma preocupação transversal. Por igual. E, infelizmente, no entanto, o foco é cada vez mais sectário.
Hoje apetrechados de melhores ferramentas de saber, os jovens merecem oportunidades de trabalho, escancarando-se-lhes perspetivas de futuro. Atingidos já por 35% de desemprego (153 mil no total), os jovens fazem bem em dar asas ao seu protesto e à recusa de castração de justos projetos para o futuro. Justificam, aliás, a preocupação dos pais, investidores no conhecimento dos descendentes e aspirantes a serem por eles apoiados na velhice. Dispõem, uns e outros, de uma causa irrecusável. Mas não é tolerável que a Terra gravite apenas em volta do seu umbigo.
Os últimos tempos mostram, de facto, sintomas preocupantes de falta de respeito por quem já ultrapassou no BI o estatuto de jovem. À afamada recusa de abrir o mercado de trabalho a quem está acima dos 35 anos de idade, junta-se agora um outro estigma, muito para lá da revisão do Código de Trabalho: o "assalto" à estabilidade de quem ocupa postos laborais há cinco, 10 ou mais anos - com produtividade.
Sim, todos têm direito ao trabalho.
Não, o direito ao trabalho dos jovens, eventualmente mais bem preparados do ponto de vista intelectual, não pode servir para o desrespeito de gerações mais experimentadas e a mostrarem os primeiros cabelos brancos. E há demasiados sintomas na sociedade portuguesa a considerar os mais velhos como descartáveis. E não pode ser assim!
"Contra a ditadura do mercado laboral fechado". "Direitos adquiridos ou privilégios insustentáveis". Estes dois slogans são exemplificativos de como há um movimento, oriundo de várias direções, para o assalto ao mercado de trabalho sem cuidar de respeitar o passado. Ambos os slogans - curiosos... e denunciados por Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo"- estão inscritos na moção L sob o lema "Pacto de Gerações" que a JSD levou ao último Congresso do partido liderante do Governo. A juventude social-democrata tipifica a onda de outras organizações, parecendo defender o quanto pior melhor no mercado laboral - embora faça a apologia da defesa dos velhinhos, que se lhes preste apoio na saúde e na pobreza, segundo o prisma do envelhecimento ativo e de solidariedade entre gerações. Também está bem....
Assim como assim, as gerações mais velhas são culpadas pelo estado caótico a que chegou o país - e pela fatura que os mais jovens terão de pagar nas próximas décadas. Mas não se pode enfiá-las numa vala comum, cobrindo-as de terra para sempre!
O país pede mais do que a divisão entre os jovens indignados e a meia idade e/ou os "velhos" resignados.