As organizações de juventude dos partidos políticos não estão particularmente bem vistas em boa parte da opinião pública, em especial entre os setores intelectuais que se dedicam à análise política. Até agora sobretudo à conta da constatação de que alguns dos jovens militantes usam essas organizações para usufruir do cartão do partido e dele tirar partido na dura concorrência pelo dinheiro ou pelo poder.
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Não era portanto das boas ideias e mais sobre a falta delas que nos podíamos queixar em relação às atividades das juventudes partidárias.
Porém, a partir de ontem, há novas razões de queixa relativamente a jovens que, pela sua disponibilidade cívica, deveriam merecer o nosso incentivo e até o nosso agradecimento.
Que a coadoção é um assunto que não é pacífico, já o sabíamos.
Que, por isso mesmo, a questão deveria ser ampla e abertamente discutida, também já era evidente.
O que é novo e não parecia nada evidente é que tendo os deputados legislado sobre a matéria, pudesse, agora, a JSD ter a influência e o poder no interior do PSD para levar a questão da coadoção para fora do Parlamento e, recorrendo à figura do referendo, colocar em xeque o trabalho e as decisões do mais importante dos órgãos de soberania em regime de democracia representativa.
Sempre acharia estranho que jovens em bloco, no caso em nome de uma juventude partidária, pensassem genuinamente que sobre assunto tão complexo da esfera das liberdades e garantias se pudesse resolver melhor com duas perguntinhas ao povo. Porque, como é sabido, a coadoção tem por princípio a pronúncia de um tribunal sobre as condições que estejam, ou não, reunidas pelos candidatos.
Mais estranho me parece que, a pretexto de uma legitimação populista, um pensamento como o que está em causa - sujeito a inevitáveis desmentidos concretos de casos de coadoção em que o peso da dádiva em amor não cabe na métrica da responsabilidade inerente ao amor das famílias clássicas - pudesse ser organizado com base na fragilização do Parlamento.
Mas mais estranho ainda é que, para acolher a ideia da JSD, a direção da bancada parlamentar tenha aceite correr todos os riscos de dissensão por entre declarações de voto violentas e até a demissão de uma vice-presidente.
E tudo isto, quando todos pudemos assistir ao nível de elaboração minuciosa que a legislação sobre a coadoção mereceu dos deputados de todos os partidos, em particular as convergências conseguidas em trabalho nas comissões.
Não, isto não é apenas estranho. É algo que vai dividir os portugueses sobre uma matéria que não estava na agenda mediática. E que, passando a estar, talvez possa evitar que os portugueses debatam outras questões. Mais problemáticas.