Em Portugal, há, como sabemos, juízes que desvalorizaram casos de violência doméstica e até um que quer processar jornalistas, políticos e humoristas, para reparar as alegadas ofensas ao seu bom nome. Mas esta justiça cega e viciada não tem, infelizmente, fronteiras.
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Nos EUA, um magistrado entendeu que não poderia prejudicar o futuro promissor de um jovem de 16 anos, mesmo que este tenha violado uma rapariga, filmado o momento e partilhado o crime com os amigos.
Durante uma audiência, em 2018, para decidir se o rapaz deveria ser julgado como adulto, apesar de ter apenas 16 anos, o juiz argumentou que "este jovem vem de uma boa família, que o pôs numa escola excelente e onde ele estava a sair-se extremamente bem. É claramente um candidato a entrar não apenas na faculdade, mas numa boa faculdade".
E à mensagem "quando a tua primeira vez é uma violação", que acompanhava o vídeo, o juiz alega: "é apenas um miúdo de 16 anos a dizer coisas estúpidas aos amigos".
O problema da justiça, em Portugal e em todo o Mundo, não é os magistrados terem ordenados superiores à média. Ou que, ao fim de dois anos de trabalho e com uma nota não inferior a "bom", tenham uma remuneração idêntica à de um almirante ou à de um general das Forças Armadas. É incompreensível, mas não é o pior. O pior é quando a justiça valida os criminosos, como exemplifica o caso relatado nos EUA. O pior é quando há uma justiça que favorece quem tem mais posses, que justifica o injustificável e que nos causa repulsa e medo. Resta-nos acreditar e esperar pelos bons, como a juíza italiana que se recusou a condenar Carola Rackete, a capitã do navio humanitário "Sea Watch", que foi detida por fazer aquilo que os governos europeus não fazem. Salvar vidas.
Diretor-adjunto