Eis que chegamos às "reviews" dos seres humanos. Na verdade, o nosso passado já tem sido alvo de análises miudinhas. Por exemplo, há recrutadores que analisam as redes sociais de quem responde a um anúncio de emprego e avaliam as fotografias e o feeds dos candidatos.
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Aliás, sermos passados a pente fino foi a ideia de duas empreendedoras que, em 2014, criaram uma aplicação que permitia a cada um dos utilizadores classificar os outros numa escala de um a cinco, à semelhança das estrelinhas que os críticos de cinema dão às estreias.
A ferramenta acabou por gerar uma enorme indignação e as empresárias mudaram o conceito da app. Mas os tempos estão cada vez mais próximos de termos um ranking de "social media", à semelhança da ficção do episódio da série "Black mirror" onde as pessoas são avaliadas diariamente por outras através de pontos para tudo o que fazem e partilham.
Esta semana, um vídeo que circulou na Internet provou-o. A velocidade com que essas imagens nos chegaram por WhastApp e Messenger revelam uma espécie de bullying coletivo. Anteontem, tivemos mais um exemplo de quem tenta fazer tudo para ficar bem nas redes. Pior é que a diligência saiu de uma organização que promove valores como amizade, respeito e excelência.
O Comité Olímpico Internacional e os organizadores nipónicos proibiram os responsáveis pelas redes sociais dos Jogos de publicarem fotos com os atletas ajoelhados, contra a discriminação racial. Ironicamente, depois de um dos diretores artísticos da cerimónia de abertura se ter demitido por piadas antissemitas num espetáculo de stand-up comedy, em 1998.
A proibição, obviamente, durou pouco tempo e a organização teve de recuar. Hoje, arrancam os Jogos. Mas as verdadeiras medalhas deviam ser entregues a quem ainda consegue ter uma perceção real do Mundo e das pessoas. Sem classificações por pontos.
*Diretor-adjunto