O académico, político e diplomata norte-americano Henry Kissinger, no próximo dia 27 de maio, vai comemorar o seu aniversário celebrando 100 anos de vida.
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Tal como Adriano Moreira, Kissinger é um daqueles homens que ajudaram a formatar o nosso tempo. Entre 1969 e 1973, foi conselheiro nacional de segurança e, depois, até 1977 foi, com Nixon e Gerald Ford, secretário de Estado.
Nesse período, acompanhou a abertura dos Estados Unidos à China e levou a paz ao Vietname, então transformado num cemitério da juventude e num grande problema para a política externa americana. Esse desempenho vai valer-lhe o Prémio Nobel da Paz, em 1973, conjuntamente com o seu opositor norte-vietnamita, Le Duc Tho.
Kissinger soube ultrapassar o caso Watergate e fazer com que a política norte-americana não tivesse atravessado grandes dificuldades nesse mundo da Guerra Fria. Antes tinha contribuído para o comunicado de Xangai, uma declaração conjunta onde se reconhece o princípio de uma única China.
Claro está que o mundo que Kissinger ajudou a fazer não estava isento de críticas, como o demonstrou a questão dos direitos humanos aquando do apoio ao Paquistão contra o Bangladesh, em 1971, ou ao golpe militar, em setembro de 1973, no Chile com o general Augusto Pinochet, bem como à Argentina com a Junta Militar.
As relações internacionais contemporâneas ficam marcadas por este homem que, em 1938, fugiu da Alemanha nazi oriundo de uma família judia e se refugiou nos EUA.
Desde sempre soube reduzir o seu pensamento a escrito e a sua tese de doutoramento, sobre o Congresso de Viena e os seus protagonistas, é, ainda hoje, uma obra de referência para a comunidade académica. A sua obra Diplomacia abriu caminho a uma nova leitura desta disciplina da política internacional, bem como o seu livro a "Ordem mundial" no qual parece que adivinhava os nossos atuais problemas.
Ativo e participativo escreveu, recentemente, dois livros cuja atualidade é permanente.
Um sobre a era da inteligência artificial e outro sobre lideranças onde se queixa da falta de estatura de Estado dos homens que gerem os negócios das nações.
Aquando da invasão da Crimeia sugeriu uma solução de administração partilhada daquele território sobre observação da ONU senão antecipava a guerra. O tempo veio dar-lhe razão, tendo ele escrito, de forma avisada, no livro "Ordem mundial" que "a nossa época anda em busca insistente - por vezes quase desesperada - de um conceito de ordem mundial. A par de uma interdependência sem precedentes é o caos que espreita (...) novos métodos de acesso ou transmissão de informação unem como nunca regiões distantes e emprestam aos acontecimentos uma projeção global, mas de forma tal que inibe a reflexão e exige dos dirigentes políticos reações imediatistas e conformáveis a slogans. Estaremos a viver um período em que o futuro é determinado por forças alheias a toda a moderação?
*Professor universitário de Ciência Política