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Pronto, eu odeio a palavra geração, mas talvez não haja melhor maneira para dizer isto. Eu sou da geração que viu muitos, mas mesmo muitos, amigos e colegas, amigos de colegas e colegas de amigos, a terem de ir trabalhar para Lisboa.
Não vi ninguém, nem colunistas nem partidos, especialmente preocupados com isto. Foram milhares, dezenas de milhares (centenas de milhares?), nos últimos 20 anos, os obrigados a aceitar empregos no único sítio do país onde os havia para eles, gente muito qualificada, num movimento de massas que foi uma inusitada forma de emigração: o vá trabalhar para fora cá dentro.
Muitos deles, quase todos, por salários nem sequer suficientes para pagar um apartamento sozinhos. Começaram a vida como acabaram a faculdade. A dividir a casa de banho. E no bolso apenas sobrava o dinheiro para pagar as viagens de regresso a casa à sexta-feira, para verem a família e os amigos, e voltar depois a Lisboa.
Muitos deles assim continuam, tantos anos depois. Alguns ainda pior. Os mesmos salários à portuguesa têm agora de pagar rendas à inglesa. Querem regressar mas não há alternativa.
Fora de Lisboa, por causa de Lisboa, pouco ainda resta. Dentro de Lisboa, por causa de Lisboa, resta-lhes conformar-se com pouco.
JORNALISTA