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É impossível não concordarmos quando nos garantem que as mulheres são o futuro. E são-no não por mero imperativo estatístico (são mais, logo terão maior expressão demográfica e peso social), mas sobretudo porque no passado foram infelizmente menos do que deveriam. E por menos não se entenda em menor quantidade. Menos porque sistematicamente subestimadas no seu legítimo fervor de emancipação e igualdade. O empoderamento feminino, tantas e tantas vezes reduzido com desdém a uma moda primavera-verão nas redes sociais, tem a urgência que agora um estudo inédito da Fundação Francisco Manuel dos Santos coloca a nu.
Ainda teremos de esperar cinco ou seis gerações (se dissermos 100 anos é mais assustador) para haver igualdade entre homens e mulheres nas tarefas domésticas. Avulta, por isso, em 2019, o estafado estereótipo de que elas são boas a cuidar dos filhos, a lavar a roupa e a passar a ferro (somar a isto a necessidade de serem também impetuosas na vida amorosa). E que eles, porque ganham mais (cada vez menos uma certeza), têm direito ao eterno descanso uma vez ultrapassada a soleira da porta. A verdade é que a simetria do esforço só se verifica num terço dos casais em que ambos têm uma vida profissional ativa. Mas este atraso civilizacional extravasa a esfera da intimidade, porque na sua génese está não apenas um chorrilho de preconceitos e heranças culturais, mas também um modelo de organização social e laboral que não discrimina positivamente os homens no que deveriam ser as suas obrigações. Há que mudar mentalidades, mas urge repensar as regras que tolhem os movimentos libertadores conduzentes a uma sociedade mais equilibrada e justa entre eles e elas. Não deixemos é que o fundamentalismo de género que tanto tem contaminado o debate nos imponha algo mais nocivo como a cegueira de género. O futuro está à frente dos nossos olhos.
*Diretor-adjunto