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Roma e os seus cardeais já elegeram o novo Papa. Este é um cardeal de origem norte-americana, escolhido por Francisco, com uma vivência do Mundo. Fez a sua evangelização no Peru, um dos países mais pobres da América Latina.
Traz consigo um nome com tradição na Igreja, mas acima de tudo deixa uma imagem de vontade de continuar o legado de Francisco. Esperemos que continue a dar à Igreja a dinâmica social e pastoral que esta precisa na sua renovação constante. Deve ter a coragem de trazer a paz para a sua vida, afastando aqueles que, na Cúria romana, evidenciam uma falta de preocupação com a realidade da pobreza. Inspirado por Santo Agostinho, deve saber que as confissões de hoje são mais exigentes na assunção da dialética da filosofia onde se vai traduzir uma moderna doutrina social da Igreja assente numa cultura de solidariedade. Lembramos que para Santo Agostinho “a esperança tem duas filhas lindas; a indignação e a coragem. A indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão e a coragem a mudá-las”.
Esta poderá ter sido uma das mensagens das congregações gerais, pelo que antes do conclave, pode ter deixado transparecer que este poderia ser já um nome na agenda de muitos eleitores. Talvez mereça ser o Papa dos afetos e aquele que vai ter de gerir uma nova geração que vai conviver com a inteligência artificial (IA) e com os impactos que esta vai arrastar para o mercado de trabalho. Terá, provavelmente, uma primeira encíclica forte sobre as questões do trabalho? Sabe que só a inteligência emocional é que nos ajuda no diálogo com um Deus que se pretende misericordioso e próximo. Não sabemos se quererá ser uma síntese de Bento XVI com Francisco. Sabemos, sim, que Francisco lhe deixa um legado de bondade para um pontificado que poderá ser longo.
Leão XIV ao escolher o seu nome inspirou-se na lição e na experiência pastoral de Leão XIII, quando compreendeu a transformação da revolução industrial e as suas consequências. Este seu antecessor preparou a Igreja para os tempos controversos que iria atravessar, como a primeira guerra (1914-1918) e a revolução russa (1917). Agora o novo Papa também está mergulhado num mundo com guerras como a da Ucrânia-Rússia ou a da Faixa de Gaza.
Os primeiros momentos do seu pontificado são muito oportunos e felizes. Falou muito da necessidade de paz, deixou perceber que querer ser um Francisco de uma outra forma quando apareceu a cantar. Um Papa que parece compreender o mundo dos imigrantes e dos emigrantes, pois também sabe o que é atravessar o oceano para conseguir viver com dignidade e que vai imprimir uma nova dinâmica à Igreja.
Esta nos seus mais de dois mil anos teve a sabedoria de eleger um novo Papa no dia em que se comemorava a vitória dos aliados na II Guerra Mundial e deixar um sinal à nova administração norte-americana pedindo moderação.
Seja bem-vindo, Leão XIV.