<p>1. O presidente da República marcou as eleições legislativas para uma data diferente das eleições autárquicas. Fê-lo a contragosto: pelo que se percebeu das suas declarações, o chefe de Estado preferia que os dois actos eleitorais ocorressem ao mesm o tempo. Tal como o PSD. A atitude de Cavaco Silva foi sensata. Não só porque vai de encontro ao que a maioria dos partidos desejava, mas também porque as circunstâncias políticas do momento aconselham a que se separem as eleições.</p>
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Verdade que a realização em simultâneo das legislativas e das autárquicas poupava dinheiro ao país e tempo aos eleitores, como notou Manuela Ferreira Leite. Verdade que os eleitores portugueses têm maturidade suficiente para saber separar as águas no acto de votar. Verdade que a experiência já se consumou, sem notícia de grandes dramas, em muitas outras democracias. Por que razão não a aplicar, então, em Portugal? Resposta: porque as eleições legislativas de 27 de Setembro têm um carácter singular que nos deve obrigar a todos, partidos e cidadãos, a um sério exercício de reflexão.
A tempestade que se abateu sobre o país na sequência da crise económica e financeira deixou-nos sem fôlego e numa encruzilhada. Isto é: sem saber muito bem que caminho seguir para, pelo menos, vislumbrar a luz ao fundo do túnel. Acresce que o resultado das eleições europeias veio baralhar ainda mais os dados do problema. O "povo" castigou severamente o Governo e deu uma nova alma ao PSD, cuja líder esbracejava, até então, com vigor para se manter à tona. Isto quer dizer que o "povo" está disposto a dar uma oportunidade a Manuela Ferreira Leite.
Ora, se o momento é (muito) sério, porventura decisivo, e os eleitores querem ouvir o que o PSD tem para oferecer, o melhor é não deixar que nada se meta no meio de uma séria discussão sobre os destinos do País. Concentremo-nos nas legislativas. Oiçamos o que têm para nos dizer os partidos que almejam formar Governo, cotejemos as propostas de Sócrates e de Ferreira Leite, comparemos a personalidade de um e de outro. Sem pressas. Usando mais a razão do que o coração. Escolha feita, partamos para as autárquicas. Sem dramas.
2. A sondagem que o JN hoje publica sobre as eleições para a Câmara do Porto (ver páginas 2 e 3) mostra duas coisas: Rui Rio leva uma enorme vantagem sobre Elisa Ferreira e o Bloco de Esquerda sobe a terceiro partido mais votado no concelho portuense. Algum dos factos espanta? Espanta: a votação na candidata do PS (25%) é muito baixa para as expectativas criadas. Um balde de água gelada. Elisa tem um gigante trabalho pela frente. Mas a verdade é que, com as férias pelo meio, já não tem muito tempo para explicar ao eleitorado por que motivo ficaria o Porto mais bem servido com ela.