Se somarmos às sobras dos votos que resultam da aplicação do método de Hondt, os votos dos pequenos partidos que não conseguiram eleger deputados, os nulos, brancos e a elevadíssima taxa de abstenção, ficamos a pensar que na realidade é apenas um pequeno punhado de gente aquele que põe em movimento a grande máquina que nos governa.
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E estes, poucos, elegem uma Assembleia da República para a qual seis distritos (dos 22 círculos) contribuem com mais de 60% dos deputados dos 230 lugares disponíveis.
E esses seis distritos vão vendo crescer os seus mandatos disponíveis a partir do despovoamento de outros. Foi o caso, nestas eleições, de Viseu e da Guarda que perderam ambos um deputado captado pelos círculos de Lisboa e do Porto.
Tudo isto conta para a já citada elevadíssima taxa de abstenção que, pela primeira vez, ficou acima dos 40% em todos os distritos do continente.
Fiquei, por ouro lado, e especialmente desta vez, com a sensação de que poderemos ter um problema de estabilidade que a confirmar-se virá a sê-lo num dos mais perigosos momentos da nossa história.
Um Brexit desordenado, que parece cada vez mais iminente, será um rastilho de consequências impossíveis de estimar. Portugal terá dificuldades em aguentar o embate, mas não terá como evitar o desastre se não gozar de estabilidade política forte.
Ora o PS mais forte que saiu destas eleições não é, por si só, garante dessa estabilidade. Quer o PCP quer o Bloco perderam votos. Um novo acordo de legislatura com o PS só fará sentido se as contrapartidas forem altas. Muito altas no caso do PCP.
Não as acolhe com facilidade o Orçamento do Estado, não as vê com bons olhos a Europa e não as tolerará o presidente da República.
Um Governo "pisca-pisca" ainda é uma probabilidade séria. Um "pisca-pisca" trabalhoso tal a dispersão dos parceiros a seduzir.
Talvez aí percebamos todos que tirar a maioria ao PS não terá sido, nestas específicas circunstâncias históricas e político-partidárias, uma ideia brilhante!
*Analista financeira