Numa alusão ao Natal, escreveu Raul Brandão: "Estamos sós nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. (...) A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo (...)"
A leitura destas evocações, com a doçura de certa nostalgia, é atributo de quem recusa o Natal das bichas na VCI para chegar aos santuários do consumo, pela sensação de felicidade que o português bem escrito nos transmite.
Para mim, que me deixei envelhecer, esta época é um regresso aos Natais com muitos à mesa, ou a baterem-nos à porta para dar as Boas Festas ou a enviarem saudações, com versos e tudo quanto a amizade podia transmitir por carta.
Comemorando o Natal na recordação dos amigos, trago à lembrança, a graça de dois tripeiros que me brindavam com as suas pilhérias em cartões exclusivos. Em 2014, Antero Nunes, glosando o IF, de Kipling (em "versão infelizmente actualizada"), dizia: "(...) Se te conformas com o teu lugar inglório / Só porque tens horror a "meter cunhas". / Se achas que és feliz, por seres honesto, / Num mundo onde a consciência é coisa frouxa / Eu dou-te os parabéns pelo teu gosto, / Mas deixa que te diga: És um trouxa..."
E Benjamim Veludo (o B.V.) escreveu várias cartas ao Pai Natal. Na do Menino Dioguinho, dizia: "Não faças como no ano passado em que, em vez do 'Diário da República', me deste 'O Diabo da República' e, em lugar do livro com as Actas das Sessões do Parlamento, me ofereceste 'A Crónica dos Bons Malandros'", (Que saudades eu tenho de gente como esta ausente da nossa vida mas não da nossa lembrança.)
O autor escreve segundo a ortografia

