Apesar de os 100 anos sobre a assinatura do tratado que pôs fim à Grande Guerra se terem cumprido apenas no domingo passado, organizaram-se oito dias antes em Lisboa as cerimónias que lembraram a participação portuguesa nesse conflito.
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Ficou-me desse dia uma imagem nítida do nosso atual aparelho militar e o prestígio operacional e afetivo que mantém junto de todos os portugueses.
E isto, se nos faz esquecer por momentos o "milagre de Tancos" deste século, é ainda assim muito pouco.
Não sabemos quem são nem donde vieram. Apenas os conseguimos honrar nesses simbólicos e anónimos monumentos ao "Soldado desconhecido".
Em Paris, no domingo passado, foi inaugurada uma placa com os nomes dos exatos 94 415 parisienses que tombaram. Por detrás deste memorial, existe um monumento aos mortos digital onde o nome de cada parisiense morto em combate tem associado um conjunto de informações familiares e históricas que nos trazem de volta cada herói e cada circunstância.
Mas a Câmara de Paris, liderada por Ana Hidalgo uma espanhola da Andaluzia fugida ao regime de Franco, foi mais longe e pôs de pé um programa que procurou encontrar novas formas de transmissão da memória às novas gerações unindo todas as idades, todas as sensibilidades e todos os caminhos com conferências, exposições, debates, visitas guiadas.
Do papel das mulheres, ao contributo dos imigrantes, do destino dos animais em esforço de guerra aos itinerários de Apollinaire, o respeito transmitir-se-á baseado em experiências de conhecimento e encontro.
Na mesma cidade, mas agora por iniciativa de Emmanuel Macron, a República Francesa assume-se com a autoridade dos seus 1,4 milhões de mortos, 600 mil viúvas e mais de 1 milhão de órfãos, como uma nova força integradora da Europa do pós-guerra que teima em não evoluir.
Cem anos depois de La Lys, mas apenas 44 depois da guerra colonial que nos dilacerou ainda mais, temos de nos exigir um muito maior esforço de preservação e transmissão da memória dos que por nós caíram e, sobretudo, um muito maior cuidado e apoio aos que lutaram e entre nós ainda se encontram.
*ANALISTA FINANCEIRA