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O Carlos não era um dos meus melhores amigos. O Carlos é, para sempre, um dos meus melhores amigos. O Carlos Pereira Santos partiu esta semana. Fez-me o favor de deixar recordações e episódios bastantes, tantos que não consegui verter uma lágrima quando o visitei uma última vez no hospital e quando dele me despedi na capela de Leça. Soltei sorrisos, sabendo de ciência certa que, lá onde estava, eram sorrisos que ele devolvia. Eram sorrisos que ele exigia.
Cheguei a invejá-lo, quando partilhámos a chefia de Redação d’“O Comércio do Porto”. Escrevia como poucos, em qualidade e rapidez. Saía dos apertos como poucos, ora usando a cortante ironia que o caracterizava, ora erguendo a voz até ao tom certo. Brincava como poucos, modo de conquistar corações, nenhum tão grande como o dele. Tirava dos dias pesados nesgas de conquistas, tantas e tantas vezes celebradas à mesa do Mauritânia (em Leça, pois claro).
Certo dia, decidimos entrar na Redação do “Comércio” aos tiros, usando pistolas com fulminantes. Isto, que parece uma brincadeira pueril e pouco aceitável em gente com responsabilidades como as que tínhamos à altura, não era mais do que um truque para cortar o peso do ambiente - e para dizermos a quem dirigíamos que havia tempo para tudo; que uma Redação é um compósito de seriedade e amizade; que somos melhores quando estamos bem com a comunidade que no rodeia. Creio, a esta distância, que alguma da argamassa que sustentava aquela Redação se consolidava nestes momentos. Para ser correto: eram do Carlos, génio criativo (quase) todas as ideias...
O Carlos Pereira Santos viveu uma vida cheia. Partiu, disso não tenho a menor dúvida, com o coração cheio. O que é justo. Muito justo.