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A campanha está mesmo a chegar ao fim e se olharmos para o coro de sondagens, no último dia possível para as publicar, não há que enganar: a coligação do PSD e CDS-PP ganha as eleições com uma vantagem confortável, na ordem dos 4% a 5%, o PS é o partido mais votado, a CDU e o BE conseguem resultados simpáticos, permitindo que a esquerda tenha a maioria de deputados no Parlamento.
É isto hoje, e é praticamente isto desde que começou uma campanha dominada pelo matraquear diário das previsões eleitorais. Discutir a variação de algumas décimas para cima ou para baixo, num esforço de tentar ler o que pensa o povo, pareceu um exercício estéril.
Mas quem saberá o que pensa o povo? O que pensa o pensionista, o desempregado, o funcionário público, o estudante, o emigrado, o empresário, a mulher, o homem? Será que pensa mais como tal, ou como gente que preza a segurança acima da mudança? Que não troca o certo pelo incerto? Que acredita mais na poupança e menos no investimento? E se assim pensa, assim votará?
Outras sondagens poderiam trazer algumas respostas a estas perguntas, as "traking polls" só nos dão um retrato pobre que bem que podia ter sido feito no primeiro e no último dia. As diferenças são praticamente irrelevantes. A "novidade" não ajudará a reter na memória campanhas que continuam a funcionar na rua, nos almoços, nas visitas, como pretextos cénicos para diretos ou reportagens nas televisões. Houve muito pouca discussão, muito pouca contraposição de propostas dos candidatos com mais hipóteses de chegar ao poder - até porque só um dos lados pareceu ter programa - e sobrou medo. Medo do défice, medo do BES, medo da Grécia, medo de não haver pensões, medo de perder o que melhorou, medo de que possa não haver melhor...
Não admira que, olhando para os resultados previsíveis do próximo dia 4 de outubro, em Portugal haja um grande ausente nos gráficos: o partido de protesto contra o sistema político que irrompeu em algumas cenas políticas europeias e que, ainda recentemente, se revelou na eleição do novo líder trabalhista Jeremy Corbyn ou no bom resultado dos catalães do Ciutadans. Nós não estamos para grandes ousadias, ficamo-nos pelo "para pior, já basta assim".
No domingo, iremos todos tirar a teima a tanta sondagem e assim se poderá afinal ler o que o povo vai querer escrever. Não vai agradar a todos e poderá ser de difícil interpretação, mas o que ficar escrito é lei.
*SUBDIRETOR