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Abril é o mês da poesia, da canção, das flores, do esplendor das árvores, da Liberdade. A 25 de Abril de 1974, ao mesmo tempo que os militares arriscavam a vida para nos devolver a Democracia, o povo saía às ruas, gritando de alegria, pedindo, não a cabeça dos opressores, mas a Liberdade. Liberdade de expressão, Liberdade para os presos políticos... Este é o 25 de Abril das minhas memórias. Solidariedade, alegria, fraternidade e igualdade. Ainda resistem saudosistas do autoritarismo, da perseguição política indiscriminada e da tortura daqueles que lutavam por uma vida melhor para o povo, cujos mandantes autocráticos lhe destinavam uma rotina de miséria e analfabetismo. Mas tais saudosistas ou faziam parte da engrenagem trituradora do regime ditatorial ou já se esqueceram de tantos que tiveram de fugir para o exílio e de outros tantos que foram obrigados a participar numa guerra em África, injusta e insolúvel, para defesa de interesses económicos e políticos de alguns que rodeavam o ditador. Não interessava o povo autóctone que vivia em palhotas, andava descalço e auferia salários de miséria. Não importava, à excepção da Igreja e dos missionários, ensinar a população a ler, escrever, estudar, prepará-la para o futuro, fazê-la evoluir para uma vida condigna. Não houve interesse político em preparar o povo africano para a independência inevitável. Muitos jovens morreram sem saber a razão por que assim tinha de ser. Em Portugal, a maioria das pessoas labutava desde a madrugada ao anoitecer para poder sobreviver à pobreza que imperava e poder, talvez, realizar o sonho de ver os seus filhos formados e com uma possível vida melhor. As eleições eram uma farsa e as perseguições uma constante. Como há tantos jovens e adultos a ter um défice de conhecimento e de memória sobre como era viver assim?! É preciso recordar e conhecer o passado para podermos acarinhar o presente e lutar por mais e melhores condições de vida, saúde, habitação, cultura, educação e cidadania... É dever do Estado e dos cidadãos empenharmo-nos nesse projecto, de permanente avanço, mas devemos olhar com orgulho o País em que nos convertemos, que somos e vimos construindo. Há sempre mais para fazer. É um mundo em progresso. Não menosprezemos o que já criámos. Precisamos de unidade, criatividade e determinação nos objectivos. Citando Nicolau Santos, "Eu conheço um País que... passou de uma das piores taxas de mortalidade infantil para a quarta mais baixa a nível mundial; ... é líder mundial no transplante do fígado e está em segundo lugar no transplante dos rins... inventou e desenvolveu o primeiro sistema mundial de pagamentos pré-pagos para telemóveis, é líder mundial em software de identificação... tem um prémio Nobel da Literatura... uma das mais notáveis intérpretes de Mozart..." Este País é Portugal, que se reinventou e progrediu em Liberdade e em Democracia. Somos um País extraordinário! Até porque conquistámos a Democracia sem armas, apenas com cravos.
*Ex-diretora do DCIAP
a autora escreve segundo a antiga ortografia