Quando confrontado com a ausência de censos das populações animais ou com queixas por danos causados, o Governo prefere dar licença para matar, fazendo de conta que não sabe que, em Portugal, continua a ser legal caçar várias espécies em período gestante (e as suas crias) e recorrer a meios de caça que incluem a paulada e matilhas de dezenas de cães.
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O argumento da licença para caçar prende-se com um pressuposto errado de que a caça é eficiente na redução destas espécies de animais selvagens. Desprezam-se os mecanismos naturais de resposta das espécies que podem levar ao inverso do pretendido, ao aumentarem o esforço de reprodução. Despreza-se ainda a forma como os habitats naturais têm vindo a ser progressivamente humanizados e fragmentados. Na regulação de populações naturais, a caça não é um método eficiente, sendo fortemente lesiva para todas as espécies dos ecossistemas onde se realiza.
Se por um lado é fundamental a criação de mais zonas de proteção integral, importa também garantir a interdição da caça dos potenciais predadores naturais e a reprodução dos animais para serem caçados.
Recentemente, a sociedade civil organizou uma manifestação em frente à RTP, contestando a organização de uma montaria. Foi criada uma carta aberta dirigida à Administração do canal de televisão público. Esta ação demonstra que a sociedade civil não se identifica com estas práticas contra os animais e com as políticas vigentes de gestão da natureza.
Uma montaria consiste no cerco a uma mancha de vegetação com caçadores em "portas" (por vezes com custos avultados) que consubstanciam os locais para onde se prevê que os animais fujam. Nesta mancha de vegetação, libertam-se as dezenas de cães, atiçados pelos matilheiros, com vista a encaminhar os animais para as portas onde estarão os caçadores que terão pago para matar. As fêmeas e/ou os juvenis são facilmente mortos à dentada pelas matilhas. Os animais que conseguem fugir ao tiro ou aos cães vagueiam perdidos e amedrontados. Todo o ecossistema é negativamente impactado e assim se contribui para o declínio da biodiversidade. São as consequências das políticas de caça vigentes.
*Dirigente do PAN