Não está informado quem não quer ou não tem de todo condições intelectuais para aceder à informação. Dito isto, julgo que o que todos esperam, mesmo os ironistas de serviço, os jovens da borga ou os que anseiam pela ruína do Mundo, é uma liderança robusta, inequívoca, que se abata sobre tudo e todos com rigor e efeitos imediatos.
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É mais do que claro que as medidas drásticas que restringem a mobilidade e confinam as pessoas são o único modo eficaz de conter a propagação deste vírus. Serão falhos todos os governos que não assumam imediatas medidas neste sentido.
Miguel Albuquerque acaba de decretar que, desde as zero horas do dia de hoje, quem chegue às ilhas da Madeira e Porto Santo cumpra compulsivamente quarentena domiciliária. A Madeira está sem nenhum caso positivo conhecido e penso que Albuquerque faz o que todos sabemos bem que devia ter sido feito em toda a parte. Quando discutíamos a legalidade da quarentena imposta já era conhecida a radicalização das medidas na China, o quanto se tornara inevitável uma liderança forte e uma obediência exemplar.
A grande perplexidade perante o que nos passa acontece pela lentidão baralhada nas decisões, a hesitação constante e a evidência de que, com a maior das boas vontades, não estamos nada preparados para isto. Seria, pois, mais realista haver tomado medidas drásticas.
O que temo é a confusão entre a urgência da situação e o populismo. Se, de um lado, o vigor de algumas medidas parecem fundamentar o pânico, por outro, a flacidez das lideranças induz à demissão e sujeitam ao risco. Assim, os regimes autoritaristas de serviço podem capitalizar esta pandemia, enquanto as democracias, cheias de diplomacia e pruridos, estarão desafiadas na sua capacidade de mobilização e compromisso.
O compromisso, aliás, é a grande falha das democracias contemporâneas. Debilitadas as consciências, os cidadãos comuns primam pela demissão.
Fica também claríssima a importância do Serviço Nacional de Saúde, o único que verdadeiramente pode cumprir o direito de todos à saúde. A saúde pública, como a escola, são o que mais legitima o facto de nos submetermos ao poder de um Estado.
Serei sempre pelo fortalecimento do SNS, confio nos médicos e nos especialistas, entendo seus erros e testemunho o esforço e a boa-fé. Quero que os políticos estejam à altura e que saibam elucidar a população do quanto estes desafios competem a todos, por imperativos éticos estamos todos chamados a uma heroicidade que, por sorte, e na maioria dos casos, pede apenas que fiquemos em casa, algo que afinal passamos a vida a dizer que seria um sonho. Perante tão grave ameaça, que modo tão simples de lutar nos pedem.
*Escritor