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1. Foi assim a modos que a primeira mão da pré-eliminatória da Liga dos Campeões. A equipa da Oposição jogou ao ataque, mas estava "coxa", com as bolas sempre conduzidas pelos jogadores da ala esquerda. No outro lado do campo, à direita, também se notou habilidade e alguma vontade de vencer, mas, na hora da verdade, o cruzamento saía frouxo e a bola perdia-se, como se o jogador não quisesse passar a bola aos colegas. O Governo estava fragilizado, até porque tinha vários jogadores lesionados, devido às constantes mudanças de direcção e aos problemas que isso causa nos tendões e na coluna. Passou a maior parte do tempo de jogo acossado, tentando apenas manter a sua baliza inviolada. Mas quando já se adivinhava o apito final, a equipa da Oposição abriu uma verdadeira auto-estrada e o Governo marcou o seu golo solitário. Na verdade, garantiu apenas mais uns meses de sobrevivência. É que ainda falta a segunda mão e, nessa altura, os apáticos médios e avançados que jogam na zona central da equipa da Oposição prometem fazer pela vida. Diziam os comentadores, no final do debate, perdão, do jogo, que a maior parte dos atletas da Oposição não fez tudo o que podia para ganhar, por uma simples e calculista razão: o treinador quer primeiro garantir a reeleição do presidente do Conselho de Arbitragem. É que, na segunda mão, em caso de vitória da equipa da Oposição sobre a do Governo, e consequente eliminação desta, será o dito árbitro que terá de marcar a data da finalíssima que pode dar acesso à Liga milionária.
2. O Manuel e a Maria são casados e têm dois filhos. Ela está desempregada, já não tem direito a subsídio, ele trabalha na construção civil, ganha 800 euros brutos por mês. Um cenário que já se arrasta há mais de dois anos, uma vez que a crise se encarregou de congelar o salário do Manuel. Pelo menos, é essa a desculpa que lhe dá o patrão. Pois o Manuel e a Maria foram chamados a colaborar no "esforço patriótico" que o primeiro-ministro anunciou por estes dias. Inicialmente, Sócrates tinha garantido que os portugueses isentos de IRS continuariam a estar isentos. Mas depois deu o dito por não dito, o que começa a ser uma espécie de imagem de marca, e Manuel e Maria foram chamados a colaborar. E assim o casal, que até aqui estava isento de IRS, pela simples razão de que tem um rendimento miserável - 200 euros por cada elemento do agregado familiar -, vai passar a descontar seis euros por mês, 84 euros no total do ano. Manuel e Maria já decidiram em que patrióticas obras querem ver aplicado o seu magro contributo: 34 euros para a linha de TGV entre o Poceirão e o Caia [compromissos internacionais são para honrar], 30 para a terceira travessia do Tejo e 20 para as auto-estradas do Pinhal Interior [a família da Maria é de uma aldeola da Beira Baixa].