É...estranho, no mínimo, que a menos de quatro meses das eleições autárquicas o grande tema, designadamente no que se refere a esta nossa cidade do Porto, seja a não menos estranha questão de se saber qual, afinal, será a lista final de candidatos.
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Suspeito que será grande até ao fim a quota de tempo e de espaço mediático que lhe estará associada, o que equivale a dizer que será sempre o ponto focal da nossa atenção coletiva.
Teremos todos menos tempo e menos espaço para tentar discernir quais as propostas que melhores garantias dão para o desenvolvimento desta cidade e do seu papel nesta Região.
E é pena porque a questão é suficientemente complexa para merecer uma atenção coletiva desanuviada e lúcida.
O caso do Porto é um caso especial. Trata-se de um concelho que coincide com uma cidade e a cidade é a entidade física e política com maior importância na gestão global das comunidades contemporâneas.
Porque nelas vivem grande parte da população (75% da população europeia, por exemplo), porque se assumiram como destinos turísticos competitivos, porque aprenderam a gerir o espaço público e o seu património edificado e cultural, porque estão na primeira linha de contacto a partir do seu país para o Mundo.
Seria então necessário perceber como é que cada um dos candidatos identifica os principais atributos do Porto, como vê a respetiva valorização e como consegue fazê-los convergir numa marca apta a posicionar-se num cenário global.
Esta grelha de análise é potente e serviria para tratar com profundidade e contemporaneidade todos os programas, propostas e discursos eleitorais.
O Porto é uma cidade de trabalho e de lazer, urbana e ambientalmente sustentável, identitária e aberta ao exterior, marítima e portuária mas também pedestre, fabril e turística, vitivinícola e desportiva.
Nenhum dos atributos acima elencados serão estranhos a nenhum portuense ou a nenhum responsável autárquico. E, no entanto, albergam duas dimensões complexas e ainda não totalmente resolvidas.
A primeira, a sua clara intermunicipalidade atestada pelo "fabril", "portuário" e "vitivinícola", que não sendo nossos, em rigor só o são porque são do Porto.
A questão da "capitalidade" regional do Porto ou pelo menos da sua histórica ligação produtiva e social a municípios contíguos ou próximos (a Norte/Sul litoral ou pelo interior do Vale do Ave e Sousa) deve ser matéria de forte reflexão ainda que longe de qualquer tentação de representatividade piramidal.
A segunda, de resto a que me inspirou o título principal desta crónica, a dimensão desportiva inelutavelmente associada à performance do seu principal clube de futebol - o Futebol Clube do Porto.
Desde logo pelo acréscimo automático que traz à notoriedade da cidade. Do seu nome, da sua marca. Não é por acaso que Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, em plena visita de Estado do presidente Cavaco Silva, destacou o papel do Porto (do F. C. P.) na promoção de três futebolistas colombianos (um dos quais já deixou o clube há 2 anos!).
Notoriedade positiva que pode ser aproveitada em prol da promoção da cidade em eventos desportivos de grande dimensão que nos projetam no Mundo e deste trazem visitantes e consumidores.
Por outro lado, nada despiciendo, pela capacidade comprovada de contacto e de mobilização das várias comunidades da cidade, que um clube de futebol com a dimensão do Porto tem e que não pode nem deve ser ignorada.
Trata-se de um protagonista que deve ser chamado a contribuir para a definição e implementação de uma visão integrada e de longo prazo que possa maximizar as funções económicas, sociais, culturais ou ambientais da cidade.
Como a Casa da Música, a Fundação de Serralves, a AEP ou a Universidade.
Desvalorizar o seu desempenho, ignorar as suas vitórias, desperdiçar o capital emocional gerado pelas suas celebrações, arredá-lo da sua comunicação institucional não é racional nem portador de futuro.
E, no entanto, era tudo isto que lamentavelmente assumia a Câmara Municipal do Porto, fechada e de luzes apagadas no passado domingo depois do anúncio da vitória.
Limpinho, limpinho, limpinho!...