A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) é um recurso crítico para a execução das políticas públicas orientadas para o crescimento económico. O saldo dos mandatos dos dois primeiros presidentes (Basílio Horta e Pedro Reis) é bastante positivo. Espera-se que o recém-nomeado Miguel Frasquilho prossiga o mesmo rumo. Como sinal de boa expectativa, deixo-lhe aqui uma ideia.
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É felizmente corrente o discurso que engrandece o valor económico da língua portuguesa. Um estudo recente, coordenado por Luís Reto, estimou-o em 17% do PIB. É também um valor estratégico, na Europa e no Mundo, em particular no Atlântico Sul e no Índico.
Por isso mesmo, tem-se acentuado, nos últimos anos, a preocupação com a promoção do português como uma língua de comunicação e de negócios. Dominar o português é uma competência que abre muitas portas em vários pontos do planeta - e especialmente para os contactos (e os contratos) com economias e potências emergentes.
Mas já se nota bastante menos que o português é uma língua de cultura. E é na cultura que reside a sua base mais forte. Bem entendido, culturas, no plural. O português é o património comum de oito nações e próprio de cada uma delas. A todas pertence, sem precedências nem hierarquia. As suas variantes têm o mesmo valor.
Sem embargo, no que nos diz particularmente respeito, temos um interesse verdadeiramente estratégico em puxar pelo português na sua tripla dimensão de língua de comunicação, de cultura e de trocas. Este interesse deveria orientar a nossa política para a promoção internacional da língua e para o seu ensino - quer entre as comunidades portuguesas disseminadas pelo Mundo, quer face aos cidadãos estrangeiros que a pretendem aprender, quer no quadro de outros sistemas de ensino.
O ponto é simples: a chamada diplomacia económica, de que tanto se fala (e eu acho muito bem) e a diplomacia cultural, de que quase não se fala, são cara e coroa da mesma moeda. E, no Palácio das Necessidades, alguém haveria de olhar com olhos de ver para o conjunto que fazem, ou deveriam fazer, junto das nossas embaixadas, as delegações da AICEP, os centros Camões, as secções consulares e o ensino do português.
Falta dinheiro, dir-se-á; e é a verdade dura, mas pura. Por isso mesmo, a participação na promoção do ensino e da cultura portuguesa no estrangeiro deveria fazer parte do caderno de encargos das empresas apoiadas pela AICEP nos seus esforços de internacionalização. Acontece em Espanha, deveria acontecer em Portugal. O país ajuda o Manuel ou a Francisca (ou o Belmiro, já lá chegaremos) na conquista de mercados nas três Américas, na imensidão da Eurásia, na África a norte e a sul do Sahara, ou nos antípodas? Pois o Manuel e a Francisca tomam a seu cargo alguns dos custos de penetração da língua e cultura portuguesa nesses mercados. Por benemerência? Não: por cálculo racional e lógica empresarial, para maximização dos seus próprios ganhos futuros.
As tormentas da míngua orçamental podem ser transformadas numa boa esperança de visão global e política articulada nos vários recursos de que dispomos para crescermos numa era de competitividade global. Não sei, caro Miguel Frasquilho, se os ministros que o tutelam - e às vezes parecem ser dois, às vezes três - terão essa visão. Mas permita-me que lhe dê a si, neste início de funções, um voto de confiança. Até poderia começar por ligar para um número que certamente conhece, e iniciar uma conversa desprendida mais ou menos nestes termos: "Caro eng. Belmiro de Azevedo, já imaginou a autoridade moral que teria se, da próxima vez que dissesse que os portugueses deviam trabalhar como os germânicos, pudesse acrescentar à catilinária esta frase - e eu sei do que falo, porque só à minha conta são financiadas tais e tais cátedras de português nessa grande Alemanha?".