Corpo do artigo
Percebo perfeitamente se os leitores passarem à frente. Não pretendo influenciar ninguém mas, no entanto, adorei os últimos quatro livros que li.
O primeiro, "Sofia Tolstoi - uma biografia", de Alexandra Popoff. Por ter tido acesso a material de arquivo recentemente disponibilizado, incluindo os diários de Sofia Tolstoi, este livro alegadamente contribuiu para o registo de uma imagem mais precisa da biografada, até agora considerada com uma mulher "perversa, incómoda e em constante guerra com Tolstoi".
Não sei se assim será porque foi por este livro que tomei, pela primeira vez, contacto com uma mulher de energia constante, que se dividia por mil coisas aparentemente incompatíveis, da família, aos negócios, das febris passagens a limpo das várias versões de todas as extraordinárias obras do autor, à agricultura, da vida galante de Moscovo, aos cuidados de saúde a todos os desvalidos em Iasnaia Poliana. A escrita é límpida, com a descrição a deixar-nos entrar no ambiente e rondar as personagens. Sente-se a paixão pelo génio, a paciência infinita pelo homem num teatro que corresponde ao final da Rússia imperial.
O segundo, desta feita uma autobiografia, a de Agatha Christie, num registo mais leve, é perfeitamente recompensador para os fiéis, entre os quais me incluo. Para além do prazer de revisitar a cadência harmoniosa de todos os seus ambientes, agora reais, fica um excelente documentário da experiência de uma cidadã Britânica durante as duas guerras mundiais e de um Império Britânico, também em fim de ciclo, sobretudo descrito a partir das experiências arqueológicas da autora no Iraque, na Síria e no Egito.
O terceiro, muito atual e muitíssimo pedagógico. "Prisioneiros da geografia", de Tim Marshall, mostra-nos como a tensão epidérmica das relações internacionais está definitivamente ancorada em marcas geográficas de sereníssima duração e localização.
A importância dos Himalaias na relação da China com a Índia, a falta de portos de águas quentes na Rússia ou " o facto de a planície costeira da África do Sul se transformar rapidamente em terras altas, fazendo com que o país seja um dos poucos países africanos que não sofrem a maldição da malária", são exemplos das contingências naturais que explicam os condicionamentos a que todos os líderes mundiais estão sujeitos e que, em última instância, traçam linhas vermelhas no mapa geoestratégico mundial.
O último, em jeito de exercício espiritual, é uma carta apostólica do Papa Francisco. "Misericordia et misera" é, para mim, um dos mais inspiradores escritos de Sua Santidade.
Cheio de bondade e esperança para o povo, e claro no mandato para o clero. Enche-nos a alma e levanta-nos a cabeça.
Boas férias!
*ANALISTA FINANCEIRA