Corpo do artigo
Um dos mais surpreendentes efeitos da crise de refugiados na Europa foi o destapar de tantos ódios xenófobos que desconhecia existirem e que, via Facebook, invadiram a vida online de toda a gente. Compreendo que esta crise levanta questões de difícil resposta, mas foi para mim inesperado que aqueles longos e grosseiros relambórios com a qualidade literária de um aviso de traseiras de estrebaria, e que me recuso reproduzir aqui, tenham permeado tão facilmente as nossas "timelines". Decidi, porque ainda acredito na Humanidade, aceitar a explicação de que pelo menos alguns dos que contribuíram para o propagar descontrolado destas mensagens não tenham refletido nas consequências. Perdidos no vórtice opinativo, quereriam expressar rapidamente as suas reservas e partilharam os posts sem ponderar e os lerem bem. Não os desculpabiliza, embora exista maior intenção nos que escrevem e concordam com todas essas linhas sórdidas e as lançam na imparável torrente das redes. Querem instrumentalizar a ignorância e usar as dificuldades que muitos têm com a pressão da demasiado veloz conversa coletiva.
Todos, claro, têm direito à sua opinião. Mas isto não se trata de direitos. Trata-se de deveres. Especialmente do dever de saber que quem espalha lixo fica tão sujo quanto quem o produz e o traz colado ao peito. Ou escondido na sola do sapato.