Todos os anos, muitos milhares de portugueses aproveitam o verão para, cá e lá fora, gozarem mais umas férias. Tempo para restabelecermos forças e ânimo que nos permitam enfrentar mais um ano de desafios. Este período de férias é também aproveitado por milhares e milhares de portugueses emigrados para visitarem o país, reverem familiares e amigos. Um fenómeno bem visível dado o elevado número de emigrantes espalhados pelo Mundo.
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Portugal tem, desde há muito, uma forte tradição de emigração. Desde o séc. XV este fenómeno tem marcado a nossa história. Em os "Lusíadas" de Luís de Camões revejo a saga de um povo que, isolado no extremo sudoeste da Europa, se expandiu "por mares nunca de antes navegados". Em a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, tenho outra perspetiva da presença dos portugueses no Mundo, neste caso no Oriente. Em os "Emigrantes" de Ferreira de Castro, vejo o país rural do início do século passado, incapaz de proporcionar aos seus cidadãos perspetivas de um Mundo melhor. Manuel da Bouça, com as suas esperanças e desilusões, é o retrato do emigrante no Brasil. Na "Trova do vento que passa" de Manuel Alegre recordo a emigração para a Europa dos anos sessenta, aqueles que "Levam sonhos deixam mágoas/ai rios do meu país/minha pátria à flor das águas/para onde vais? Ninguém diz". De facto, os anos sessenta e o início dos setenta foram fortemente marcados pela emigração. Por mais que se reivindique que esses anos foram os de maior crescimento da economia portuguesa, não podemos ignorar que tal progresso falhou em proporcionar condições de trabalho e de bem-estar ao cerca de um milhão de portugueses obrigados a procurar emprego no exterior, sobretudo em França. Portugueses que, com as suas remessas, acabaram por contribuir para que os que ficaram pudessem gastar mais do que aquilo que o país produzia.
Os recentes números sobre a evolução do desemprego em Portugal são certamente positivos. Mas não geremos ilusões. Nos últimos anos houve, em Portugal, uma colossal destruição de emprego e a evolução recente da nossa população ativa evidencia bem que se perderam várias centenas de milhares de trabalhadores. De acordo com a base de dados PORDATA, nos últimos quatro anos, emigraram cerca de 500 mil portugueses. Emigrados, desencorajados e precários deviam estar no centro do debate político. Um debate que deveria focar-se mais em propostas sobre a criação sustentável de emprego estável e gerador de riqueza do que na discussão de estatísticas que dificilmente refletem todas as facetas da real situação do mercado de trabalho. Estes portugueses não podem ficar esquecidos, perdidos da nossa memória coletiva.