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Roubaram oito joias do Museu do Louvre. O mundo reagiu com espanto, indignação e manchetes. Mas talvez o verdadeiro roubo não tenha sido esse. O que mais dói é o que o gesto representa: vivemos um tempo em que já não sabemos distinguir o que tem preço do que tem valor.
Uma época em que o que é rápido e superficial tem mais relevância do que o que é verdadeiro e feito para durar. A vida corre depressa, tudo se mede em "likes", "views" e números. A beleza virou estatística, o tempo virou luxo. Mas o que realmente dá valor a uma peça - seja uma joia, um relógio ou um quadro - é o que não se vê: o tempo que levou a ser criada, as mãos que a fizeram, as histórias que carrega.
O roubo no Louvre não é apenas um caso de polícia - é um espelho da nossa era. O que desapareceu daquela vitrina é o reflexo do que já desapareceu dentro de nós: o respeito pelo tempo, o valor do detalhe, o significado do que é raro.
Crescemos numa cultura que faz tudo para durar pouco. Mas luxo é o contrário da pressa, é fazer as coisas devagar e bem! Um relógio mecânico não é só um objeto de precisão - é uma forma de pensar o tempo. Uma joia não é só o peso em quilates - é continuidade, ofício e memória.
Mas o nosso tempo parece ter medo da eternidade. A cultura do "agora" já não tolera o intervalo, a espera, a imperfeição. Quer tudo perfeito, instantâneo, disponível.
Hoje, o que se rouba já não é o ouro ou o diamante - é o valor do tempo. Rodeados de cópias perfeitas e luxos em série, confundimos luxo com ostentação, quantidade com qualidade, brilho com luz. A autenticidade tornou-se rara - e talvez seja isso que este assalto nos quer lembrar: já não protegemos o que tem alma, apenas o que tem alarme.
Ainda assim, há uma beleza teimosa em resistir. Em continuar a acreditar no que não se compra, em cuidar do que envelhece bem, em valorizar o trabalho das mãos e das histórias que ligam gerações. Proteger o que é raro é proteger quem somos. E isso começa na forma como olhamos para o tempo - não como um inimigo, mas como o nosso bem mais precioso.
Roubaram oito joias, sim. Mas todos os dias nos roubam - e deixamos que nos roubem - o sentido do belo, o respeito pelo tempo, a noção de que o valor não se mede em euros, mas em significado. O verdadeiro roubo é quando esquecemos o que importa.
Talvez devêssemos aprender com o que desapareceu. Não porque o possamos recuperar, mas porque nos lembra a importância de cuidar - cuidar do que é feito com tempo, do que dura, do que tem alma.
Cuidar das mãos que criam, das histórias que ligam gerações, das heranças que passam de pais para filhos, de mestres para aprendizes.
No fundo, o roubo no Louvre recorda-nos algo simples e duro: uma sociedade mede-se pela forma como protege o que é frágil, a nossa história. O verdadeiro luxo é isso - cuidar do que tem alma e aproveitar o que realmente importa.
Há uns tempos, numa conversa sobre o que é realmente o luxo, alguém me disse algo que nunca esqueci:
"O maior luxo que temos na vida é sermos donos do nosso tempo - e sabermos usá-lo para cuidar do que nos trouxe até aqui."

