A TAP regressou aos lucros depois de cinco anos consecutivos de prejuízos. O feito, alcançado em 2022, é de louvar.
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No entanto, é legítimo perguntar qual foi o custo deste resultado líquido positivo alcançado dois anos antes do que previra a própria Comissão Europeia quando aprovou o plano de reestruturação da empresa em 2021.
A companhia pública expandiu as suas rotas, com mais ligações a partir dos principais aeroportos nacionais, transportou mais passageiros, não reduziu salários, não pagou indemnizações ou prémios milionários a gestores e mostrou a todos que o erário público pode ser bem aplicado? E, já agora, as tarifas ficaram mais baratas? Infelizmente, a resposta é negativa a todas estas questões, quando comparamos aqueles indicadores com o desempenho alcançado em 2019, ano anterior à pandemia. Cortar nos custos e no serviço é receita certa para o sucesso contabilístico. No Excel, tudo parece bater certo, sobretudo quando a comparação é feita com o ano precedente.
Goste-se ou não, os lucros de quase 66 milhões de euros e receitas recorde de 3,5 mil milhões constituem o legado de Christine Ourmières-Widener, a ainda CEO da TAP que recebeu ordem de despedimento, por justa causa. Aliás, a contestação em tribunal à sua rescisão sem acordo poderá valer alguns milhões a mais para a gestora, afetando as contas da companhia.
Neste contexto, convém recuar um pouco no tempo. A renacionalização feita pelo primeiro Governo de António Costa aconteceu em 2016. E a nacionalização a 100% chegou em 2020. "TAP está a ser embrulhada" foi o título de uma crónica minha em 28 de dezembro de 2021. Esclareci então que esse embrulho da companhia visava a sua reprivatização, então negada pelo Executivo. No final de 2022, António Costa já admitia a venda a privados, mesmo que com prejuízo para os contribuintes.
A eventual alienação da TAP a grupos estrangeiros confirmará a velha máxima da Esquerda: privatiza-se o lucro e nacionaliza-se o prejuízo. Uma mini-TAP com contas equilibradas é mais apetecível para um qualquer gigante da aviação que esteja de olho nas ligações de Portugal com as suas múltiplas comunidades espalhadas pelo Mundo. O famoso "hub" de Lisboa, que não é mais do que uma plataforma giratória de voos, vale dinheiro. Duvido que as ligações internas ou às principais capitais europeias, nomeadamente a partir do Porto, venham a ser uma prioridade dos futuros donos sem preocupações de serviço público. Estes lucros não "TAPam" a estratégia errática de que todos somos vítimas.
*Editor-executivo-adjunto