Não há muitas diferenças entre o general-almirante Shabazz Aladeen e Alexander Lukashenko.
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O primeiro é um ditador egocêntrico. Governa Wadhiya, um Estado africano, tem um programa nuclear secreto e arrisca a vida para que a democracia seja impossível no país. O segundo também é ditador. Manipula eleições, reprime manifestantes, desvia aviões para prender opositores, detém mulheres que usem meias com as cores da bandeira proibida e arrisca a vida de quem o contesta para que a democracia não chegue ao seu país.
O primeiro é uma personagem interpretada pelo comediante Sacha Baron Cohen, que deu corpo ao famoso Borat. O segundo é real. Mas distinguir a ficção da realidade entre os dois é difícil. É trágico. Se nos rimos com Cohen, ficamos de rosto fechado com Lukashenko. Não só por ser um ditador perigoso, mas sobretudo por colocar a nu uma Europa ineficaz e sem meios para lidar com tiranos que coabitam no seu espaço.
Mais uma vez, a Europa falha. Falha porque não tem uma política externa eficaz. Falha porque os interesses europeus na China e na Rússia, países aliados da Bielorrússia, falam mais alto. Assim se entende a ineficácia das sanções da União Europeia já impostas ao regime de Lukashenko logo após as eleições presidenciais de 2020, não reconhecidas internacionalmente e que deram origem a manifestações diárias de protesto, violentamente reprimidas. Só assim se percebe que um presidente de um país possa ter a ousadia de desviar um avião para prender um jornalista.
Os europeus são, como o ditador gosta de classificar os seus opositores, "carneiros ao serviço das potências estrangeiras". Uma frase que não é nova na boca de tiranos, mas que não deixa de ser surpreendente e transforme a realidade, europeia e mundial, em mais um filme provocador de Borat.
Diretor-adjunto