Em Bragança não há bares de alterne. Foram todos encerrados em 2003, colocando um ponto final à movimentação das autodenominadas "mães de Bragança". A muitos a questão passou-lhes ao lado.
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E até para os meios de comunicação nacionais só ganhou verdadeira relevância quando foi capa da revista "Time". Acabou, no entanto, por se tornar num momento de xenofobia e de repulsa para com mulheres sul-americanas e, sobretudo, brasileiras.
Com o passar dos anos, o assunto não foi encerrado. Agora regressou com a estreia da série "Luz vermelha" na RTP, que não é sobre o que se passou em Bragança, mas inspira-se no que ali aconteceu para produzir uma obra de ficção.
Bragança mudou muito desde então. Apesar de uma ou outra reportagem divulgadas nos média nacionais, ainda não é reconhecida como a cidade multicultural e multiétnica em que, nestes anos, se transformou. Cerca de 10% da sua população é estrangeira, provavelmente um caso único em Portugal.
Muito disso se deve ao Instituto Politécnico de Bragança (IPB), que acolhe alunos de todo o Mundo. Uns para fazerem o curso todo, outros em períodos semestrais, como é o caso dos vindos pelo programa Erasmus. Esta nova realidade não conseguiu ser capa da "Time", pelo que é menos conhecida do que aquela que foi rotulada, exageradamente, como o novo "Red Light District" da Europa, em alusão ao famoso bairro da prostituição em Amesterdão.
Bragança habitou-se a conviver com pessoas de outras raças, oriundas de outras culturas e que professam outras religiões. Não se têm verificado, até agora, comportamentos xenófobos ou racistas. A cidade, contudo, poderá não continuar imune ao alastrar dos discursos em que as "xenofobias cavalgam a onda dos populismos políticos", como alertou o Papa Francisco, no regresso do seu périplo pelos países africanos em setembro. O Papa disse mesmo que na Europa se vive um retorno a tempos que pareciam enterrados na história, com discursos que se "assemelham aos de Hitler de 1934".
Já há um ano o Papa tinha denunciado "a expansão de novas formas de xenofobia e de racismo", num congresso no Vaticano com o tema "Xenofobia, racismo e nacionalismo populista no contexto das migrações globais". Nessa circunstância disse que "vivemos tempos em que parecem recobrar vida e espalharem-se sentimentos que a muitos pareciam superados. Sentimentos de desconfiança, medo, desprezo e até de ódio contra indivíduos ou grupos julgados diferentes por causa de sua pertença étnica, nacional ou religiosa e, enquanto tais, considerados não suficientemente dignos de participar plenamente da vida da sociedade".
O IPB está a contribuir para que Bragança se esteja a transformar numa cidade cosmopolita. É importante que outras instituições, nomeadamente a Igreja, façam tudo o que esteja ao seu alcance para que esses discursos não triunfem. E para que não suscitem movimentações xenófobas e racistas que ponham em causa a sã convivência que, agora, se verifica na cidade entre pessoas de diferentes países, culturas e religiões.
Padre