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O multitasking e a carga mental das mães são quase sempre assoberbantes, mas esta semana (em que ademais tive bastante trabalho) acumulei funções que, definitivamente, me ultrapassam. Isto porque, no espaço de poucos dias tive de cumprir funções de Duende do Pai Natal, do próprio Pai Natal e, por duas vezes, de Fada dos Dentes. Ora se isso não é sobrecarga materna, não sei o que seja.
Já costuma ser difícil conciliar o trabalho (que muitas vezes é fora de horas e longe de casa), com a sobrecarga mental dos emails da escola, das mochilas da natação, dos horários das atividades, do pedido de não sei quê que é preciso levar, do aniversário da amiguinha e o respetivo presente, da comida para a festa da escola e das mil coisas que se acumulam. Ora, ter de fazer as vezes de figuras mitológicas já me parece demais! Não que as mães não sejam, elas próprias, figuras mitológicas, para o bem e para o mal, mas ser duende, ancião lendário, fada e eu própria é mais do que consigo sustentar numa semana.
Fui Duende por culpa minha, devo dizer. Acho que é sempre melhor instigar a criança a criar presentes para oferecer à família e, portanto, há sempre algum artesanato a fazer nas semanas que antecedem o Natal: ter a ideia, arranjar material, esperar pelos dias em que o duende mirim tem paciência para deitar as mãos à obra, dar assistência e fazer os embrulhos no fim. Acrescentando algumas fotografias selecionadas a dedo, que há que imprimir na loja, colar em álbuns ou pôr em envelopes, numa linha de montagem que ainda me toma muitas horas ao serão.
Fui Pai Natal, desde logo, porque mesmo reduzindo ao máximo o consumismo, tenho de garantir uma meia dúzia de presentes para as crianças em redor e, como prefiro o comércio tradicional, tenho de lá ir, pessoalmente. E, ainda que sejam poucos, como a escolha é criteriosa e não os compro a eito na mesma loja (como quem vai a um hipermercado despachar uma longa lista), há sempre algum périplo envolvido. Ora, como não disponho de renas voadoras como o velho Nicolau, tenho mesmo de enfrentar o caos da cidade em dezembro.
Finalmente, fui Fada dos Dentes porque na mesma semana o meu pequeno perdeu os dois primeiros dentes de leite e a excitação era muita. Dá-se o facto de que a dita fada trabalha à noite e confesso que para quem anda tão cansada é complicado não adormecer ao mesmo tempo que a criança, ainda antes de cumprir a missão de deixar a lembrança ao lado da almofada. Felizmente, revelei-me uma fada competente e o desdentado ficou satisfeito, mas devo dizer que desejo voltar à minha prosaica condição de simples mulher de carne e osso, sem demais missões a cumprir. É que além das missões das mulheres de carne e osso já serem demasiadas, as dos seres mitológicos, dando trabalho, valem poucos créditos. A gratidão fica toda na conta das entidades imaginárias...