Fazem mal às crianças e põem mães e avós à beira de um ataque de nervos. Falo, claro, das férias grandes, daquelas férias em que a escola fecha quase três meses seguidos, promovendo o esquecimento das aprendizagens e a impossibilidade de conciliação entre casa e trabalho.
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Ou seja, contrariando o que se proclama como objetivos das políticas educativas e de família.
Agora que as férias grandes estão a terminar, para alívio de muitas mães e avós, agora quando se contam os dias para as escolas reabrirem é a altura certa para falarmos do problema em que transformamos um tempo que devia ser vivido com relaxamento.
As férias grandes são mais de dois meses de stresse para combinar quem fica com quem, quando e a fazer o quê. Todos mobilizados, pais e avós, para conciliar as férias, o trabalho e a ocupação das crianças. É um alívio quando se encontra espaço no jardim zoológico, nos serviços educativos de um museu, num ginásio. Os ATL são um mundo a descobrir em cada verão para quem tem recursos financeiros para tal. Como outros problemas, as férias grandes têm consequências desigualmente distribuídas em função da posição socioeconómica dos pais.
As férias grandes já não se usam, são um resquício do passado. Não se usam nos restantes países da Europa com os quais gostamos de nos comparar. Não se usam porque são prejudiciais aos processos de aprendizagem e de socialização das crianças. Dois meses e meio sem contacto com a escola são um tempo para desaprender o que custou muito a estudar no período letivo. Este ano, em que se coloca o grave problema da recuperação das aprendizagens perdidas com os confinamentos nos tempos de pandemia, a persistência deste resquício do passado tem ainda menos justificação. Os testes e provas de aferição revelaram uma realidade desastrosa para muitas crianças cuja correção deveria ser uma prioridade das políticas educativas.
Não se usam, ainda, porque as mães e as avós não têm como única atividade cuidar dos filhos e netos. Têm, felizmente, vidas de trabalho com direito a férias curtas, que muitas vezes não chegam a um mês. Férias grandes não permitem conciliar a vida de trabalho com a vida familiar. Quando me defronto com estas situações, que afetam sobretudo as mulheres que trabalham, que não têm avós disponíveis reformados, penso nas políticas de natalidade desenhadas para crianças que ainda não nasceram, mas que se quer que nasçam. Como se não fossem mais necessárias políticas de educação e de família para as crianças que já existem.
Professora universitária