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As eleições legislativas são como um campeonato. A disputa começa mais ou menos um ano antes da final e o sucesso depende muito dos pontos que se vão acumulando jornada a jornada. António Costa, secretário-geral do PS, parecia ter entendido isto quando em setembro último disputou e conquistou o lugar de candidato a primeiro-ministro, mas tem mostrado pouca dinâmica no terreno de jogo. Os competidores mais temerosos sabem que os campeonatos se decidem em duas dimensões: os jogos pequenos e os grandes embates, sendo que nuns e noutros é preciso estar concentrado e empenhado a cem por cento, sem exceções.
Na ação de um partido de oposição com pretensões a governar, os jogos pequenos disputam-se numa base diária. Dos autarcas aos deputados, dos órgãos do partido ao seu líder, da juventude aos senadores, de todos se espera uma ação concertada, num exercício que pretende inclinar o campo no sentido da baliza adversária. Ora, aquilo a que temos assistido no PS não é um bom exemplo. Percebeu-se o "apagão" de Costa após as diretas, de forma a moderar a euforia. Mas já é mais difícil perceber que esse retiro se prolongue por tanto tempo, deixando espaço para que a coligação governamental capitalize sobre alguns pequenos sucessos macroeconómicos.
O episódio do discurso perante os cidadãos chineses, que motivou a desfiliação de Alfredo Barroso, é um sinal inequívoco de que os socialistas não estão a prestar a devida atenção aos jogos pequenos. Eis um deslize de António Costa que rapidamente se transformou em perda de pontos no tal campeonato das legislativas.
Os grandes embates, por sua vez, exigem o máximo aprumo dos protagonistas, pela simples razão de que os seus efeitos perduram no espaço público. A contenda da Grécia com as instituições europeias abriu uma oportunidade de ouro para os socialistas portugueses. Não seria necessário fazer a apologia do Syriza, mas passar a mensagem do caminho alternativo à austeridade e agendar a dimensão europeia das dívidas soberanas poderia ter rendido importantes pontos no campeonato das legislativas. O PS esteve errático e pouco convincente neste embate.
Estes jogos grandes exigem entrega total e capacidade de marcar a agenda. Na apresentação do programa de governo e na definição do candidato a presidente da República, o tempo começa a pressionar. Costa, se quer ganhar, tem de mostrar ao país a sua disponibilidade total. Isto significa deixar, quanto antes, a Câmara de Lisboa. Antes que seja tarde de mais.