Tinha aberto a caça aos animais de boca grande. O crocodilo exclamava "coitadinho do hipopótamo". Abriu a caça aos países de défice e dívida elevada. Portugal é o crocodilo e a Grécia o hipopótamo. O crocodilo procura camuflar-se com um orçamento curto, enquanto espera pelas novas fardas chamadas "plano de estabilidade e crescimento". O crocodilo tem tendências suicidas, alimentadas pela esquizofrenia do PSD que, enquanto critica a falta de ambição do orçamento, vai apresentando propostas que se traduzem em aumento da despesa: a alternativa para os professores do secundário era ainda pior que a do governo; a posição quanto às finanças regionais, uma cedência ruinosa; a solução para os docentes do politécnico, para quê quantificar o impacto? Tudo em nome da justiça, claro. Como se não bastasse os caçadores andarem por aí, há quem anuncie que o crocodilo é igual ao hipopótamo. Chovem tiros de todo o lado que deixam feridas. Não satisfeitos, alguns masoquistas manifestam-se pedindo mais despesa. A fábula podia continuar. A situação é tão grave que é preferível chamar os bois pelos nomes. A incompetência de Almunia - o mesmo que, em finais de 2008, com o pânico já instalado nos mercados, ameaçava instaurar um processo de défice excessivo a Portugal por o orçamento não dar continuidade à redução do défice - fez disparar os custos com a dívida. Talvez desactualizando o orçamento.
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Pelo rumo que as coisas levam, é provável que partidos políticos e parceiros sociais acabassem por produzir o mesmo efeito. Os analistas andam frenéticos, observando os sinais da economia mas também os da sociedade. Na Grécia e Espanha preocupam-nos a escalada de greves. Coitadinhos dos hipopótamos!
Entretanto, aguarda-se que o governo apresente o seu PEC. Pode-se cortar alguma despesa, mas não toda a despesa e a carga fiscal já está elevada. A solução é crescer. Qual o modelo? Como? Os sinais não são animadores. Mais centralização, não apenas no PIDDAC mas, sobretudo, nos investimentos públicos e privados. Mais centralização mesmo em iniciativas tão simbólicas como o conselho consultivo do ministério da cultura, expurgado de qualquer representante de fora de Lisboa. Mais... do mesmo. Ao Norte resta a sua sina de região exportadora, se não de mercadorias então de pessoas. Talvez voltem as remessas que tapem buracos e escondam a falência do país e da região. Talvez. Mais do mesmo.
P.S. Se não estivesse de acordo com a forma como o director do JN decidiu no artigo de Mário Crespo, teria cessado a minha colaboração com este jornal. Para qualquer leitor atento era óbvio que havia uma escalada que prenunciava este fim. O timing foi tão perfeito que Ricardo Costa seria a pessoa certa para escrever o prefácio do livro de MC.