Mais segurança e mais tolerância zero para as ameaças ao património
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Recentemente, o Padrão de D. João I em Guimarães, um monumento único, foi destruído. Símbolo do agradecimento de D. João I a Nossa Senhora da Oliveira pela vitória na Batalha de Aljubarrota, a sua perda representa a destruição de um importante símbolo histórico de enorme valor para a História de Portugal. Nenhuma ação de restauro devolverá o valor da passagem do tempo, da emoção que acompanhou a sua construção, do talhar da pedra que assinalou a importância do momento. Representação, como outras ímpares, que, uma vez destruídas, não voltarão a ser substituídas.
Este acontecimento foca-nos na questão da segurança do nosso património. É impensável que as ocorrências se sucedam sem controlo, sem segurança. É inconcebível que património com valor esteja à mercê de destruição fácil, sem vigilância, sem elementos protetores pensados para eventualidades dramáticas. Quantos monumentos e símbolos de valor estão nas cidades ou em ambientes mais rurais, isolados, esquecidos onde permanecem sós, sem a atenção necessária e conveniente.
Por norma, não priorizamos a cultura nem o património e esquecemos que são essenciais, fulcrais para as pessoas e para os lugares. Não estamos preparados para olhar os monumentos como símbolos da nossa identidade, como integrantes da nossa vida e como testemunhos vivos do nosso passado. Não estamos preparados para proteger o que nos dá valor. O património continua presa fácil de predação ou vítima de imprudência, descuido, insensatez e não como alavanca para construir a paz, erradicar a pobreza, promover o crescimento económico sustentável, reduzir desigualdades, ou aproximar pessoas em agendas de segurança e de diálogo.
A dinâmica política a nível internacional introduziu novas formas de estar e de demonstrar que colocam, dia a dia, o património em risco. Consideram-se nestes contextos os roubos e atos de vandalismo, puníveis por lei, que resultam de demonstração, manifestações políticas, retaliações públicas ou, apenas e tão só, de diversão como resposta a pressões entre pares. Inadmissível. Não apenas porque falamos de atividade criminosa, mas
porque também se trata de uma violação à nossa Cultura e História, direitos fundamentais que assistem a todos nós.
É necessário abordar com rigor os riscos, promovendo uma análise reflexiva e crítica em torno da proteção e conservação do património. Impõe-se olhar os atores, as suas motivações, os comportamentos absurdos, irracionais, patológicos, de revolta ou simplesmente insensatos. É fundamental evitar riscos e dissuadir o crime em ambientes de fragilidade. Urge colocar sistemas de videovigilância que desencorajem vandalismo e furtos e dispor as novas tecnologias ao serviço da monitorização do património, mas também, criar planos estratégicos e redes de colaboração que o protejam da desastrosa ação humana ou da incontornável ação da natureza em mudança.
Para infrações, pede-se tolerância zero.