A nossa dívida a pagamento anda pelos 200 mil milhões de euros e o efeito dos sete anos a mais que o Fundo Europeu de Resgate nos concedeu incide apenas sobre uma parte, uma vez que de fora fica a parte do empréstimo de que é credor o Fundo Monetário Internacional. Quer isto dizer que vamos aliviar os picos de pagamento da dívida às entidades europeias do consórcio credor batizado por troika: um montante entre os 50 e os 60 mil milhões de euros.
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É claro que este detalhe não invalida a qualidade do processo político conduzido pelo ministro das Finanças junto do Ecofin e do Eurogrupo para obter a extensão das maturidades de parte dos pagamentos da dívida. Neste sentido, vale a pena reter o bom que será ter de cumprir com os novos pagamentos entre cinco e 10 mil milhões em vez dos primitivos na casa dos 20 mil milhões.
Não resta a menor dúvida de que o que está a acontecer é positivo para Portugal poder voltar a financiar-se com normalidade. Mesmo que não desvalorizemos a circunstância de serem segmentos financeiros mais especuladores aqueles que mais têm procurado as ofertas de obrigações do nosso Tesouro, nos treinos que Portugal tem levado a cabo para o regresso pleno ao campeonato dos mercados. O que pode vir a significar que esse regresso pleno poderá ter de ser "controlado". Que o mesmo é dizer apoiado pelo Banco Central Europeu nas previsões de alguns analistas financeiros.
Aliviado o Estado português dos montanhosos picos de pagamentos calendarizados entre 2014 e 2021, resta perceber de que modo vamos poder interromper a espiral da dívida que não para de crescer. Porque se não o fizermos, o que a generalidade dos analistas nos dizem é que Portugal terá de pedir um segundo resgate, apesar do brilharete deste fim de semana.
Ora nesta matéria é que parece estar ainda longe o consenso, incluindo no interior dos partidos que suportam a atual maioria governativa. Ainda que cada vez menos numeroso, persiste um grupo de apoiantes do modelo de destruição criativa, enquanto outro grupo, cada vez mais numeroso, sustenta que a aplicação dessa proposta à nossa economia será matar o país.
Do que se trata é de saber se levar a austeridade ao ponto de provocar a seleção dos atores económicos mais fortes será aplicável a um país em que 90 por cento das empresas vivem do consumo interno. Saber quantas empresas sobreviverão por mais tempo ao ciclo vicioso instalado: estrangulamento do rendimento disponível e do consumo por efeito da carga fiscal direta e indireta e criação de vagas devastadoras de falências e de desempregados.
Com as novas maturidades da dívida, Passos e Gaspar poderão agora abrandar a carga fiscal. Dificilmente se abrirá nova janela de oportunidade para a economia.