No Porto, temos por vezes o mau hábito de desvalorizar o que fazemos bem. Parece que o que é nosso tem de ser por natureza fraco. Quando a realidade aponta exatamente para o contrário. Basta pensar em Serralves, no Porto de Leixões, nos hospitais, na Universidade. Ou na Metro. A única empresa de transportes públicos a ganhar dinheiro com a sua atividade.
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Os números são impressionantes. Uma empresa do setor público, gerida pelo Estado e ainda com uma dívida monumental consegue resultados operacionais positivos - 41 milhões de euros de receita contra menos de 39 de custos -, libertando 2,3 milhões em 2015. O serviço público acarreta uma componente social e visa a satisfação de necessidades das populações. Se não perder dinheiro, tanto melhor.
O extraordinário da notícia é o facto de ela ser inédita. Além da Metro do Porto, não há empresas públicas de transportes com resultados positivos - basta olhar para o Metro de Lisboa, para a CP ou para a TAP. E mesmo em termos europeus, ao que se sabe, essa circunstância é raríssima.
Trata-se de um paradigma de boa gestão e de boas contas. É certo que a Metro contou com a visão e o empenho de alguns dos melhores gestores nacionais, desde os saudosos João Porto e Oliveira Marques, passando por Ricardo Fonseca, e agora por um destacado membro da nova geração de servidores públicos, que é Jorge Delgado. Mas as conquistas feitas no Norte, em matéria de empresas do Estado e com todas as dificuldades que o caminho encerra, podem, devem e têm de ser valorizadas. Se não pelo país político, pelo menos por nós que cá vivemos e que sentimos no dia a dia as vantagens de um serviço de qualidade.
Não por acaso, os resultados do Metro do Porto resultam também do facto de ser a única empresa pública cujo modelo de negócio - o da subconcessão a privados - não foi revertido ou anulado pelo Governo. A fúria estatizante atravessou a economia, mas não passou pelo Metro do Porto. Basta ver as contas ou lembrarmo-nos que não há greves para tirar as ilações devidas.
Está aberto o debate quanto às novas linhas do metro. A última palavra é do Governo. Espera-se agora que os bons resultados sejam fator de bonificação do investimento. Como se espera que, na hora da decisão, não se volte a cair na asneira de fazer linhas no meio de plantações agrícolas, mas que se leve o metro às zonas onde existem pessoas, procura e rentabilidade assegurada. Basta olhar para o mapa para perceber que é sobretudo no Porto, eventualmente também em Gaia, que o investimento gera retorno.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO