Mais uma voltinha, mais uma viagem. É um velho clássico de qualquer romaria que se preze. Mas ninguém vai ao engano quando entra no carrossel, seja no Senhor de Matosinhos, no S. João do Porto, na Feira de Março de Aveiro, na Festa das Cruzes de Barcelos ou na Feira de S. Mateus de Viseu. Vamos para uma voltinha sabendo de antemão que, quando acabar, estaremos de volta ao ponto de partida.
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Com a regionalização do país passa-se algo parecido. De cada vez que se anuncia o programa das festas eleitorais, umas vezes é o PS que mostra mais entusiasmo a anunciar mais uma voltinha. Outras vezes, é o PSD que aponta para mais uma viagem. Mas, passadas as eleições e desmontadas as caravanas, sem direito sequer a umas farturas, as promessas ficam adiadas para a romaria que haverá daí a quatro anos (às vezes menos, quando é preciso antecipar eleições).
Há sempre uma qualquer justificação para protelar. Nesta matéria, e no que diz respeito aos dois principais partidos (sem os quais a regionalização nunca se fará), o melhor é manter o ceticismo. O mais provável é que, dentro de quatro anos (ou menos), se descubra que não saímos do sítio. Como quando entramos no carrossel da feira.
Uma vez instalados no Terreiro do Paço, com todas as fichas que dão acesso ao poder à mão de semear e os milhares de milhões de euros de fundos europeus para gerir e distribuir a partir da capital do império, os caciques centralistas levam sempre a melhor.
É verdade que, desta vez, até o presidente da República vem sugerir que a regionalização, se feita com visão, sensatez e consenso, será "um serviço inestimável a Portugal". Veremos se este empurrão é genuíno ou se se trata do ilusionismo habitual, ainda que um pouco mais elaborado. Tal qual como nos carrosséis, em que o fala-barato que controla o microfone introduz uma ideia adicional à frase já gasta. Mais uma voltinha, mais uma viagem. Menina não paga, mas também não anda.
*Diretor-adjunto