"Mais vale prevenir do que remediar!" - Parte 1
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O ditado aplica-se bem ao que se passa em Portugal. Confesso que enquanto cidadão começo a ficar revoltado com o que, ano após ano, se vai passando por cá. Os incêndios destroem recursos financeiros, florestais, ecossistemas, paisagens, flora e fauna, solos, capacidade de retenção de água, matéria orgânica, acumuladores de CO2. "Enchem" as Televisões, mostram o sofrimento e a angústia de quem se encontra em perigo. Para além dos prejuízos materiais acaba sempre por haver acidentes que provocam feridos e mortes. Sucedem-se os comentários de especialistas e não especialistas, repetindo argumentos ano após ano, ficando quase tudo na mesma. As alterações climáticas, os incendiários e a falta de limpeza dos combustíveis são as mais vulgares justificações. É verdade que caminhamos para períodos climáticos que favorecem os fogos, é verdade que há criminosos e também é verdade que a existência de combustíveis finos torna mais fácil a propagação do incêndio. Todavia, também é verdade que há muito para fazer, da prevenção ao combate (deixo esta área do combate aos especialistas, mas é público que temos intervenientes a mais e alguma descoordenação entre eles). Por exemplo, quando acabaram com os Governadores Civis, quando a Troika esteve por cá, provocaram o desaparecimento da estrutura que fazia a articulação e coordenação dos serviços regionais do Estado, sendo que se perdeu essa proximidade e o conhecimento real dos meios e das respostas que fariam sentido). Infelizmente, na área da prevenção há mesmo muito por fazer. Há quem pense que "limpar a floresta" é retirar árvores e combustíveis finos, como se estivéssemos num jardim urbano, esquecendo que ao cortar árvores aumentamos a temperatura e perdemos ensombramento, proporcionando aumento do crescimento da camada arbustiva e a rápida secura dos combustíveis finos. Retirar a matéria orgânica aumenta a aridez, reduz a capacidade de retenção de água, empobrecendo os solos. Também a prevenção dos fogos é multifatorial, exige muitas medidas, muitos saberes e muita ação fora dos períodos secos, assim como muita articulação entre atores, quer do poder central, quer do poder local. Exige-se melhor Estado. Estamos disponíveis para comprar aviões de combate, pelo que se ouve. Será que estamos também disponíveis para pagar os serviços prestados pelos ecossistemas que nos dão a água, a paisagem, o lazer, a retenção de CO2 e a proteção do solo? E quanto às medidas de mitigação e de adaptação das sempre chamadas "culpadas" (as alterações climáticas) pelos políticos de serviço, também estamos dispostos a usar os nossos impostos? Pois é, Prevenir também é Pagar. Sabemos que o chamado interior tem menos gente e logo menos votos, logo menos investimento, desequilibrando o investimento para o litoral.
No passado, os matos, as pinhas e a "caruma" eram usados nas "camas" dos animais, nos fogões a lenha e nas lareiras, havendo uma valorização económica destes combustíveis, equilibrada e feita por uma população que estava nas aldeias, que "chamuscava" o porco, nas festas da comunidade. Hoje, a saída para as cidades dos mais novos, o abandono da agricultura e das atividades diversificadas com menos monocultura florestal obrigam a rever o nosso "modus operandi". Não é a multar quem tem pouco para viver, com pequenas propriedades, para quem muitas vezes nem conhece as parcelas e não retira qualquer rendimento desse bem que se resolve este problema. É incompreensível que eu tenha financiamento para comprar um trator, mas se quiser comprar cabras ou ovelhas isso não acontece. Um rebanho tem muitos custos
associados, se queremos um território diferente e com menos incêndios temos de incentivar financeiramente estas atividades. A pastorícia é muito importante, não resolve tudo, mas é essencial, e poderemos ter rebanhos privados, comunitários e até públicos. Temos, obrigatoriamente, de mudar uma economia do fogo e transformá-la numa economia da prevenção. Estaremos a criar condições para trazer pessoas para o interior se alguns dos meios financeiros forem colocados nesses territórios, contribuindo para reduzir os fogos e principalmente os grandes incêndios. Fogo e Floresta andam de mão dada, faz parte e andam lado a lado, mas é possível reduzir não só o número de ignições, mas principalmente os grandes incêndios. Não tenho espaço para elencar todas as medidas que considero importantes para que a Economia da Prevenção prevaleça e possa contribuir para mudar o panorama atual. Esperar resultados diferentes sem mudar é, no mínimo, esperar um milagre.