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Ao menos nas aparências, o Governo iniciou há uma semana nova etapa. Se os primeiros seis meses foram consumidos no cumprimento de um apertado calendário imposto pela troika para combate urgente ao afamado desvio colossal das contas públicas, está chegada agora uma nova fase: a de o país não se limitar ao ajuste de contas por via do aumento de receita feito à custa de uma carga insuportável de impostos. Manter o Estado nos níveis de (des)organização actual redundará, obviamente, na impossibilidade prática de retoma da única via possível para a saída do atoleiro em que estamos metidos: crescimento económico.
Fez ontem oito dias o Governo esteve reunido horas e horas. À tradicional foto de grupo através da qual foi possível traçar a pinta dos ministros, ora mais engravatados ora mais descamisados, juntou-se uma declaração pífia pelo meio e um silêncio final muito criticado. E a Oposição cumpriu o seu papel tradicional de bota-abaixo dando conta de um balanço do conclave ao jeito de coisa nenhuma.
É crível ter adoptado o Governo, para mais a um domingo, uma postura de vácuo absoluto?
Será um erro retirar tal conclusão.
Pressionados pelas exigências da troika para o cumprimento de um conjunto de modificações estruturais da sociedade portuguesa, Passos Coelho e os seus ministros terão afinado uma estratégia de resposta afirmativa para os próximos tempos, sob pena de todos os esforços entretanto pedidos aos portugueses não terem qualquer efeito.
Houve, até agora, aproximações noticiosas, chamemos-lhe assim, ao conjunto de decisões que estarão na forja. A revisão da Lei Laboral ou da Lei do Arrendamento são, evidentemente, apenas dois dos itens indispensáveis já abordados para um novo modelo de sociedade - bom segundo uns, mau para outros. Mas há um dado adquirido: todas as alterações não dispensarão mais sacrifícios, quanto mais não seja os decorrentes da necessidade de adopção de uma nova filosofia de vida pelos portugueses, destinando-se a muitos uma saída de uma chamada zona de conforto (tão ou mais nefasta para as suas vidas que a decorrente da sugestão potenciadora do mercado da emigração, assinada por sugestão canhestra de alguns governantes).
A gestão do silêncio do Governo acaba, no fundo, por radicar em duas opções.
Por um lado estará, com certeza, em fase de ponderação do adequado para fazer as modificações necessárias e, por outro, condicionou anúncios ao calendário. Em época de festas ter-lhe-á sobrado alguma condescendência...
As decisões duras (e drásticas) fazem parte de um próximo capítulo. Dentro de dias...